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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Por que ensinar valores?

Celso Antunes

Dizer a uma criança de cinco anos para que coma salada, porque salada“faz bem” não a induz a devorá-la. Se o fizer, fará para agradar a mãe ou, pior ainda, comerá salada “apesar de detestá-la”, porque ainda que não ouse revelar, tem medo da mãe. A criança não gosta das saladas não porque a química que compõe seu organismo a rejeita, mas sim porque não compreende porque deve comer salada. As palavras da mãe não garantem a convicção e em seu nível de conhecimento, comer salada não faz qualquer sentido, ao contrário, por exemplo, de entupir-se de guloseimas. Em verdade, quem recusa a salada na criança não são as suas células gustativas que caracterizam o paladar, mas seu cérebro, pois o cérebro humano jamais aceita o que não lhe faz pleno sentido.


A referência à salada e a circunstância da criança são apenas exemplos simbólicos. Em qualquer idade, somente gostamos do que possui sentido e por esse motivo não somos capazes de decorar um punhado de palavras esdrúxulas, como por exemplo murufratagitrari, brucutrape, saratripiu”, mas guardamos com carinho o recado gostoso de que “amanhã será domingo de sol e a praia nos espera”. Se pensarmos bem, a aparente dificuldade da memória para registrar os dois recados acima é absolutamente a mesma, mas fixamos a segunda e não a primeira porque a segunda faz sentido. Em síntese, o “combustível” do cérebro humano é sempre a “significação” e quando tentam nos enfiar na memória frases sem essa essência, reagimos como reage a criança diante da salada imposta.

É por esse motivo que é importante ensinar valores.

Os valores não são, como habitualmente se pensa, atributos desejáveis ao ser humano, ou fundamentos da dignidade da pessoa, ou objeto de escolhas morais, ou qualidade que pode fazê-lo mais ou menos bonito no contexto social. Ao contrário, os valores são os alicerces da humanidade, a essência da preservação da espécie e o “alimento” que integra e faz prosperar os grupos sociais. Mais que isso, “Valores” são, em última instância, aquilo que pode ser vivenciado como algo que faz sentido e, dessa forma, como tudo quanto dá razão à vida. A vida biológica do homem, tal como a vida biológica da mosca, não necessita ser vivida.

Representa simplesmente uma circunstância evolutiva, um acidente orgânico e, dessa forma, basta durar apenas o tempo para se reproduzir. Com essa missão orgânica concluída, a vida não tem mais motivo e morrer ou não constitui apenas um acidente que termina um outro que a gerou.

Mas, o homem não é apenas constituído por uma vida biológica. É uma vida que alcança a plenitude do sentido porque ama, sofre, constrói, se zanga, se surpreende, foge da tristeza, anseia pela felicidade, cultiva a simpatia, exibe compaixão, embaraça-se, assusta-se com a culpa, cresce com o orgulho, mortifica-se com a inveja e por isso tudo causa espanto e

admiração, indignação ou desprezo. “Sem sentir-se “inundado” pelas emoções e pelos valores, a vida não é vida e se fosse possível não tê-los, bastava ao homem passar pela vida e não viver”.

É por esse motivo, insistimos, que é importante ensinar valores.

Mas se não se duvida dessa importância, é essencial que se descubra que ensinar valores tal como se insiste com a criança que coma salada, implica em sua rejeição ou, pior ainda, em um domínio sem compreensão, uma aprendizagem sem significação, logo rejeitada pelo cérebro. Valores não se ensinam, pois, com conselhos.

Nada contra os conselhos. Se bonitos e bem intencionados até que não ficam mal em quem quer que seja. Mas, acredita-se que possam ser “apreendidos” representa uma outra história. Os valores, tal como as saladas, precisam de momentos certos para serem mostrados e, sobretudo, necessitam de exemplos para serem explorados, circunstâncias específicas para que sejam compreendidos, ambientes emocionalmente preparados para que sejam discutidos. Assim como não se discute a boa intenção da mãe em tentar empanturrar seu filho de cinco anos de saladas, também não se discute a intencionalidade de se ensinar valores de forma discursiva. Isso até pode ser satisfatório para a consciência de quem transmite, mas é inútil para o cérebro de quem acolhe. Se é que acolhe.



http://www.celsoantunes.com.br/pt/textos_exibir.php?tipo=TEXTOS&id=11

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O papel da escola no incentivo à leitura


Imagine uma escola em que as crianças topam com um livro a toda a hora. Quando querem procurar algo para fazer, lá estão os exemplares, disponíveis. Se é hora de procurar informações, também estão eles lá, como opções. Para incentivar a escrita, contar histórias, eles são as estrelas. E aqui, estamos falando de literatura: uma história que faça o leitor viajar, encontrar com medos, ver suas dúvidas, dar muita risada, descobrir o mundo. E treinar muito, claro, sua capacidade de leitura, de entendimento, de prazer com o livro.

Crianças que convivem em ambientes de leitores e para as quais adultos lêem com freqüência, interessam-se mais pela leitura e desenvolvem-se com maior facilidade nesta área. CRESCER conversou com educadores, pedagogos, críticos de literatura infantil e especialistas em programas de incentivo à leitura e listou aqui o que pode fazer uma escola ser realmente parceira nesta bela empreitada.
Leitura diária

Em muitas escolas, é comum a leitura diária de história, desde o primeiro ano de vida da criança. “Lendo, discutindo trechos da história e chamando a atenção para as ilustrações, favorecemos aspectos fundamentais da leitura, como compreensão de texto, seqüência narrativa, personagens e espaço”, diz Maria de Remédios Ferreira Cardoso, vice-diretora da Educação Infantil da Escola Móbile (São Paulo, SP). Mesmo as crianças já alfabetizadas devem ser expostas a leituras, que, neste caso podem ser compartilhadas em classe e acompanhadas de discussão do texto, dos elementos que o compõem e de análise do enredo.
Oportunidade de manuseio de livros

Para que as crianças adquiram intimidade com os livros, é importante terem oportunidades de tocá-los, sem a intervenção de adultos. Fica tudo no ritmo da criança.
Acervos diversificados

Os livros devem ser diferentes, adequados à idade dos alunos, constantemente atualizados e bem conservados. As visitas à biblioteca devem fazer parte da rotina das crianças e, no local, é importante haver um profissional capaz de orientar os alunos e estimular a leitura de obras adequadas.

Os livros deles

Para as crianças, a possibilidade de levarem para a escola seus livros preferidos é um grande estímulo. Muitas escolas incentivam a prática, lendo em sala os livros dos alunos. Isso fará com que eles com compartilhem com os amigos e, quem sabem, emprestem um para o outro.

Pais como parceiros

As escolas devem chamar os pais como aliados no estímulo à leitura. Podem ser indicações em conversas, via internet ou em reuniões. Ou colocar livros à disposição na escola e convidar os pais a conhecer o acervo.

Visita de autores

Encontros com autores são positivos para as crianças adquirirem maior intimidade com seus livros, histórias e personagens e perceberem que criar histórias é inclusive uma profissão. Mas a escolha precisa ser bem cuidada: de preferência, a escolha deve partir – ou pelo menos ser muito bem aprovada – pelas crianças. Nada de fazer as crianças conhecerem o autor indicado somente porque ele vai lá. O bacana é oferecer, ver o que agrada e contatar as editoras.

Professores leitores e atualizados

Para atuar na formação de novos leitores, ninguém melhor do que professores leitores., nem a contratação de um professor deve ser efetivada caso ele não se revele um leitor ativo. “O trabalho feito por professores não leitores pode prejudicar o vínculo da criança com o livro, pois quem não garimpa livros antes da indicação e da adoção, nem sempre vai escolher títulos realmente capazes de sensibilizar os alunos”, diz Sueli Cagneti, professora de Literatura Infantil e Juvenil da Universidade da Região de Joinville (SC). Elizabeth Serra, pedagoga e Secretária Geral da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, concorda e acredita que a escola deve promover grupos de leitura entre professores, como parte de um projeto de formação continuada.

Leituras obrigatórias

As leituras obrigatórias parecem ser um recurso inevitável, já que as crianças precisam vivenciar determinadas experiências literárias ao longo da vida escolar. A escola deve procurar, no entanto, fazer dessas leituras algo prazeroso para a criança. A leitura obrigatória pode ser um bom instrumento pedagógico, permitindo que as crianças apresentem seus pontos de vista, diferentes interpretações e opiniões. “Na escola Grão de Chão, utilizamos, por exemplo, uma ficha de avaliação em que a criança diz se adorou, gostou ou não gostou da leitura. Com isso, ela aprende que um texto chato para um, pode ser divertido aos olhos de outro”, afirma Paula Ruggiero, Coordenadora Pedagógica da escola.

Quando for hora de apresentar os clássicos da literatura brasileira e mundial, o empenho em “conquistar” este novo leitor deve continuar.

“Por apresentarem uma linguagem elaborada e tratarem de assuntos por vezes complexos, os clássicos precisam ser mais trabalhados em sala, fazendo trocas de opinião, predição sobre acontecimentos, explicações paralelas sobre fatores históricos, maneiras de pensar da época, por exemplo”, afirma, Maria Cecilia Materon Botelho, diretora pedagógica da SEE-SAW/Panamby Bilingual School.

Nada de mensagens obrigatórias

Livro não tem uma única interpretação, uma mensagem absoluta, muito menos obrigatória de a criança encontrar, ler nas entrelinhas. “Mais do que apreender o conteúdo de uma história, um poema ou uma ilustração, a criança deve se apropriar das estratégias de aproximação com os textos e com a literatura”, diz Peter O’ Sagae, leitor crítico e editor do site Dobras da Leitura.

  • Cristiane Rogerio e Marina Vidigal.
Fonte: Revista Crescer

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

AMOR - Pe. Fábio de Melo - Muito lindo.

Amor que é amor dura a vida inteira. Se não durou é porque nunca foi amor.


O amor resiste à distância, ao silêncio das separações e até as traições.

Sem perdão não há amor. Diga-me quem mais você perdoou na vida, e eu então saberei dizer quem você mais amou. O amor é equação onde prevalece a multiplicação do perdão. Você o percebe no momento em que o outro fez tudo errado, e mesmo assim você olha nos olhos dele e diz: “Mesmo fazendo tudo errado eu não sei viver sem você.

Eu não posso ser nem a metade do que sou se você não estiver por perto”.

O amor nos possibilita enxergar lugares do nosso coração que sozinhos jamais poderíamos enxergar. O poeta soube traduzir bem quando disse: “ Se eu não te amasse tanto assim, talvez perdesse os sonhos dentro de mim e vivesse na escuridão. Se eu não te amasse tanto assim, talvez não visse flores por onde eu vi, dentro do meu coração”!

Depois de algum tempo você ... SHEAKESPEARE

Depois de algum tempo você percebe a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma.


E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança.

E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas.

Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.

E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.

Depois de um tempo, você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo.

E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam...

E aceita que não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso.

Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.

Descobre que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida.

Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias.

E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.

E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.

Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso, sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos.

Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos.

Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser.

Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.

Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve.

Aprende que, ou você controla seus atos, ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.

Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências.

Aprende que paciência requer muita prática.

Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se

Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou.

Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.

Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel.

Descobre que só porque alguém não te ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.

Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar a si mesmo.

Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.

Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte.

Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.

Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.

E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A fotografia do poder no Brasil

A edição de 13 dezembro de 2010 da Revista Época trouxe como manchete uma análise sobre os 100 mais influentes brasileiros do ano. Com cinco opções de capa, a revista dá ao leitor a opção de comprar a versão com a presidente Dilma Rousseff; a do cineasta José Padilha, diretor dos filmes Tropa de Elite 1 e 2; com o empresário Eike Batista, considerado a 8ª pessoa mais rica do mundo e finalmente a capa com o jogador santista Neymar Júnior. Mas, o que de fato chama a atenção não é o recurso publicitário acima mencionado, e sim o fato de que praticamente não há negros nessa edição especial.
Com exceção da ex-ministra Marina Silva, fenômeno das últimas eleições presidenciais, e do jogador Neymar, que ocupa a tradicional parcela de negros no campo das celebridades futebolística, todos os outros 98 escolhidos pela equipe da revista são brancos. Como disse certa vez, em entrevista, o ator negro Milton Gonçalves, “nós não estamos na fotografia do poder”.
Pela lógica da revista , a população negra brasileira deve, portanto, contentar-se em ler histórias de sucesso de seus patrícios não-negros e ícones do Brasil que “deu certo”, como a de Eduardo Saverin, bilionário, co-fundador do Facebook, de apenas 28 anos; David Neeleman, que colocou a companhia Azul em terceiro lugar no mercado de aviação brasileiro; de Alexandre Behring, que comprou ações da empresa americana Burger King - reforçando a nova imagem do capitalismo brasileiro no mercado Global - além de tantos outros “euro-ascendentes” que contribuíram para o desenvolvimento do Brasil em 2010. Até na música, tradicional reduto negro na mídia, sobrou para Margareth Menezes e Carlinhos Brown apenas fazerem comentários elogiosos sobre Ivete Sangalo e a roqueira Pitty, respectivamente.
Como se vê, se tomarmos apenas essa reportagem como referencial, conclui-se que o Brasil termina a última década de século XX como se estivesse ainda no século XIX: sem negros nos espaços de poder, apesar da retórica conservadora de que somos uma democracia racial.
O mais curioso é que, ao que parece, de fato, não houve “grandes erros” de apuração dos jornalistas de Época, pois, de fato, nossa influência objetiva nas decisões políticas e econômicas do Brasil é quase nula. Quer uma prova, é só olhar para o ministério da nova presidente Dilma Rousseff.
Entretanto, há graves omissões que precisam ser ditas na reportagem, como a do cineasta Jefferson De, ganhador do 38º Festival de Cinema de Gramado com o filme Bróder, ou a professora Nilma Lino Gomes, conselheira nacional de educação e que deu um parecer contrário a publicação do livro Caçadas de Pedrinho do escritor Monteiro Lobato, acusado de racista, gerando um grande debate nacional sobre o racismo no ambiente escolar.
Ou seja, uma melhor apuração jornalística dentro da comunidade negra certamente podem apresentar outros nomes negros de destaque em matérias como essa. Apesar disso, de fato, a reportagem em questão é, literalmente, a fotografia da desigualdade racial brasileira nos campos da política, mídia e economia; Senão, vejamos.
Segundo o pesquisador Reinaldo Bulgarelli, que atuou na recente pesquisa do Instituto Ethos de Responsabilidade Social denominada "Perfil Social, Racial e de Gênero nas 500 maiores empresas do Brasil", se continuarmos nesse ritmo de inclusão social, na melhor das hipóteses, demoraremos 150 anos para que homens negros atinjam a mesma posição dos brancos no mercado corporativo. No caso das mulheres negras, essas demorariam muito mais - a pesquisa revelou que hoje elas são apenas 0,5% do topo da pirâmide empresarial do país.
Se os números da desigualdade assustam, não há conforto ao olharmos para ações de combate a discriminação racial nas empresas: 72% das companhias entrevistadas não adotam nenhum tipo de ação afirmativa, seja na contratação de funcionários ou nos planos de carreira.
Na África do Sul, símbolo do racismo mundial, uma das principais políticas do pós-aparthied foi a criação do programa Black Economic Empowerment (Empoderamento Econômico dos Negros), que, dentre outras coisas, dá vantagens em licitações públicas para empresas de propriedade ou gerenciadas por negros - o que no caso sulafricano inclui pretos, coloured (pardos) e indianos. Apesar das críticas, o programa tem criado, dentro dos limites do capitalismo, uma classe média negra minimamente capaz de influenciar importantes decisões da nação. Por aqui, setores conservadores da sociedade ainda discutem a legitimidade das cotas raciais nas universidades.
O Brasil, como se sabe, pretende se tornar, até 2025, a quinta maior economia global, ultrapassando a Alemanha, e finalmente atuar como um player de primeiro escalão no cenário internacional. Porém, para que isso realmente ocorra, serão necessárias mais do que ações para incrementar o Produto Interno Bruto (PIB). É preciso conter o sangramento demográfico de jovens - que já começam a fazer falta na economia - e investir em educação de qualidade. Segundo pesquisa do Observatório de Favelas, Secretaria Nacional de Direitos Humanos e UNICEF, cerca de 33 mil jovens devem ser mortos no Brasil até 2013.
Na cerimônia de sanção do Estatuto da Igualdade Racial, o então presidente Lula disse que a dívida que o Brasil tem com negros "não pode ser paga em dinheiro, mas com solidariedade". Porém, o documento que possui 65 artigos ainda é tímido para enfrentar desigualdades tão latentes e não inclui marcos legais efetivos para mudança do status quo racista.
Em compensação, o que observamos no teatro de horrores das grandes metrópoles brasileiras é a punição severa de jovens negros com menos de 25 anos, vitimados ora pela guerra do tráfico de drogas ou pela ação genocida de grupos de extermínio - tudo isso sob a leniência governamental e com o álibi do chamado "auto de resistência" por parte das policias. Pelo visto, não há dúvidas sobre a opção feita pelo Estado Brasileiro, em vez de educar e unir, prefere segregar e punir. Essa é, portanto, a fotografia triste da nossa realidade.

Paulo Rogério Nunes é diretor-executivo do Instituto Mídia Étnica e co-editor do Portal Correio Nagô. Twiiter: www.twitter.com/paulorogerio81