
Palestra da
Prof. Maria Carmen Barbosa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul sobre o
brincar no 28. Simpósio Internacional da OMEP.
Durante sua fala, Maria Carmen
nos incita o tempo todo a pensar profundamente sobre o brincar e o nosso papel
como educadoras e educadores da infância. Sua fala se iniciou com uma pergunta:
É preciso brincar na escola de Educação Infantil? Para responder, a
pesquisadora e professora dividiu sua fala em quatro pontos. São eles: A-
Brincar é a capacidade de inventar mundo; B- brincar não é ato natural, mas uma
aprendizagem cultural; C- Para brincar é preciso um lugar para fazer
brincadeiras, tempo para inventá-la, vivenciá-la, materiais "ricos"
e, de preferência muitos companheiros; D- Brincar não se contrapõe a aprender,
mas é relacionar-se com o mundo do conhecimento e aprender de modo
significativo. A - Brincar é a capacidade de inventar mundo Brincar está
presente na nossa vida diária. Passamos oito horas dormindo e sonhando. Ao
longo do tempo acordado temos momentos de devaneios, fantasiamos, inventamos.
Imaginar e fantasiar faz parte de ser humano. A possibilidade de
desenvolvimento dessa capacidade é afetada pelo contexto e a cultura de cada
um. Imaginar e fantasiar são formações mentais que gera capacidades em seres
humanos. Capacidade de criação humana. Através das brincadeiras as pessoas
iniciam a construção de seus mundos imaginários. B- Brincar não é ato natural,
mas umas aprendizagens culturais Todos nasceram com capacidade de interagir com
o mundo que nos circunda. Temos capacidades de interação. Seres humanos são
capazes de inventar, criar brincadeiras, criar regras. Mas a brincadeira é uma
construção sócia- histórica, que precisa ser transmitida. Brincadeiras derivam
muitas formas de lazer, recreação. Durante muito tempo crianças e adultos
brincaram juntos. Brincadeiras mudam de nome nosso lazer, coisas de gostamos
são também fontes de prazer e fazer compartilhado. Brincadeiras persistem, as
novelas são ligadas ao faz de conta. Temos que pensar sobre isso. Transformamos
possibilidade biológica em realidade cultural. Para as crianças pequenos atos
dão inicio na formação do mundo simbólico. Elas internalizam aspirações do
mundo em que vivem e fazem suas próprias relações. Ao brincar e imaginar
constroem novos mundos e participam da cultura. Mães e professoras introduzem
elementos culturais. Brinquedos estão inseridos na cultura, adultos apresentam
para as crianças seus primeiros brinquedos. Adultos apresentem aquilo que
consideram mais significativo. Crianças imitam os modos de usar, mas a partir
de suas combinações inventam novas brincadeiras. Ao escolhermos formas, cores,
tipos de brinquedo, não oferecemos apenas um objeto, mas sim um discurso
simbólico. Esses brinquedos trazem narrativas. O que queremos oferecer as
nossas crianças? Pergunta feita pelos adultos para escolher o quer
disponibilizar as crianças. C- Para brincar é preciso um lugar para fazer
brincadeiras, tempo para inventá-la, vivenciá-la, materiais
"ricos" e, de preferência muitos companheiros; Durante muito tempo, o
tempo e o espaço para brincadeira foi assegurado para as crianças. Vida na
cidade tem dificuldade de garantir espaços para o brincar das crianças.
Francesco Tonucci aponta que os espaços da cidade tem deixado as crianças
solitárias. Há um empobrecimento da experiência da brincadeira. A experiência
do brincar dos adultos precisam nos fazer resistir a isso. Criar espaços para
as crianças se encontrarem e brincarem. As escolas de Educação Infantil
precisam ampliar e atualizar suas funções educativas. Educação Infantil é lugar
onde crianças de diferentes idades se encontram e tem tempo e espaço para
brincar. Diretrizes Curriculares Nacionais para a EI de 2009 reiteram a
infância como período importante do desenvolvimento humano: aprender a
conviver, a brincar, inventar e ser curioso, entre outros. Elementos
significativos para nossa formação. Revelam uma mudança radical em relação a
concepção de escola instruída pela sociedade no século XIX. Isso remete a uma
mudança grande nos tempos, espaços das instituições, tornando os espaços que
desafiem as crianças para o brincar. Cozinha pode também ser um espaço para o
brincar, parque não é para recreação, mas um espaço de brincadeira. É preciso
construir espaços de brincadeira, onde crianças possam ter contato com livros,
experiências, etc. Isso exige uma outra forma de gestão da EI. Precisamos
escutar mais os clássicos da EI, que foram esquecidos nos momentos em que as
creches viraram escola. Que esses espaços sejam mais ricos, incitem a fantasia.
Crianças de 0 a 6 anos não precisam trabalhar disciplinarmente. Os professores
precisam saber disso, como as crianças constroem números, sabem sobre a
natureza, etc... Esse patrimônio chega, mas não precisa chegar como disciplina,
como aula de. Com materiais ricos, natureza, boa biblioteca, trabalho com
música, esse patrimônio esta garantido. Mas alem de espaços e objetos, é
preciso fundamentalmente tempo para brincar. Ter meia hora de parque por dia ou
deixar as crianças sozinhas, sem ofertas de brincadeiras, é garantir o direito
a brincadeira? É preciso tempo para brincar, um adulto que compartilhe, que
saiba sobre o brincar. Professores são fundamentais para garantir uma cultura
de brincar: apresentam novas brincadeiras, complexificam, outras vezes observam
e vêem como as crianças prosseguem em seu brincar. Cada criança pode apresentar
na brincadeira seu modo singular de ver o mundo, percebe-se através das
brincadeiras a diversidade de classes, gêneros, etc. Escola que favorece a
brincadeira é inclusiva. D- Brincar não se contrapõe a aprender, mas é
relacionar-se com o mundo do conhecimento e aprender de modo significativo. O
pensamento não é apenas individual. Nossa capacidade de pensar tem relação com
co-construções. Hoje na ciência pensamos em grupos de pesquisa, construção em
dialogo. Brincar é um modo de aprender coletivo e compartilhado. Aquilo que
fica é aquilo que socialmente e emocionalmente tem valor para nós. Brincar
forma desconstruirmos a nos mesmos como seres humanos. Terapias tem usado a
brincadeira como conexão com as crianças. Brincadeiras mobilizam emoção, corpo,
pensamento, tudo ao mesmo tempo. Crianças tomam iniciativas, criam narrativas,
brincadeiras. Brincar cria perguntas e onde há perguntas há espaço para a
construção do pensamento. Difícil convencer as famílias que a brincadeira é
importante. Nossa sociedade preza muito a informação. Boaventura Souza santos,
sociólogo português aponta: “o neoliberalismo é, antes de tudo, uma cultura de
medo, de sofrimento e de morte para as grandes maiorias, se não se combater com
eficácia, se não se lhe opuser uma cultura de esperança, de felicidade e de
vida”. Escola não pode reduzir a vida das crianças a realidade como ela é. O
brincar e as narrativas são instrumentos políticos, são eles que possibilitam
ao outro a gentileza, a delicadeza inegociável da vida. Precisamos viabilizar
na escola o direito de viver, explorar, conhecer e transformar o mundo.
Instituição da Educação Infantil com alegria, esperança e vida para todos. Há a
disposição natural dos seres humanos para brincar, mas se deixarmos crianças
sozinhas espontaneamente, as brincadeiras serão empobrecidas. Nesse sentido,
professores precisam ampliar repertórios. Nossa função é de ampliar mundos,
enriquecer as brincadeiras. Brincadeiras é compreendida como deixar as crianças
livres, mas organizar o currículo focado na brincadeira exige muito estudo e
aprofundamento.