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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Desejos de Ano Novo




“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente.
Para você, desejo o sonho realizado. O amor esperado. A esperança renovada.
Para você, desejo todas as cores desta vida. Todas as alegrias que puder sorrir, todas as músicas que puder emocionar.
Para você neste novo ano, desejo que os amigos sejam mais cúmplices, que sua família esteja mais unida, que sua vida seja mais bem vivida.
Gostaria de lhe desejar tantas coisas. Mas nada seria suficiente para repassar o que realmente desejo a você. Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos. Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto, rumo à sua felicidade!”

Carlos Drummond Andrade


FELIZ ANO NOVO COM GRANDES DESEJOS REALIZADOS!

sábado, 17 de dezembro de 2011

XXVII Encontro Nacional do Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil – Salvador Ba




Edna minha querida, amei seu texto, relata com fidelidade o maravilhoso encontro, e você tem toda razão quando diz que Salvador nos energiza e nos revigora.


 “O Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil (MIEIB) é um movimento social que, desde 1999, luta pela concretização do atendimento de qualidade às crianças de 0 a 5 anos e 11 meses em instituições de educação infantil no Brasil, articulando em Fóruns de Educação Infantil de todos os estados brasileiros e do Distrito Federal profissionais que atuam diretamente na área da Educação Infantil, universidades, gestores, ONG, sindicatos etc.
      O MIEIB tem como um dos seus objetivos a divulgação de uma concepção de Educação Infantil comprometida com os direitos fundamentais das crianças e a ampliação da consciência coletiva sobre a importância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento do ser humano. Entre os vários princípios que defende estão:

- a garantia e o reconhecimento do direito constitucional das crianças de até cinco anos (independentemente de raça, idade, gênero, etnia, credo, origem sócio-econômica-cultural etc.) ao atendimento em instituições públicas, gratuitas e de qualidade;

- o reconhecimento da Educação Infantil como primeira etapa da educação básica, parte da estrutura e do funcionamento do sistema educacional brasileiro;

- a concepção de criança como sujeito de direitos, ativo e participativo no seu contexto histórico-cultural;

- a indissociabilidade cuidar/educar visando o bem-estar, o crescimento e o pleno desenvolvimento da criança de 0 a 5 anos e 11 meses;

- a implementação de políticas públicas que visem a expansão e a melhoria da qualidade do atendimento educacional abrangendo toda a faixa etária 0 a 5 anos e 11 meses.”

 

      Este preâmbulo faz parte do texto CONSIDERAÇÕES DO MOVIMENTO INTERFÓRUNS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DO BRASIL, MIEIB, na mesa  Diferentes interlocutores dialogam sobre uma política curricular e a definição de expectativas de aprendizagem e conhecimento para a educação básica, em evento organizado pelo MEC, da qual participaram ANPED, CNE, CONSED, MIEIB e UNDIME.
      Resgatei este texto porque, a meu ver, resume com clareza os compromissos do MIEIB  em relação as principais questões que hoje são preocupação dos educadores, pais e mães e representantes de diversas instituições que atuam na defesa da Educação Infantil  no Brasil.
      Participei, representando a coordenação do Fórum Alagoano em Defesa da Educação Infantil, FADEDI-AL, do XXVII Encontro Nacional do Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil (MIEIB)/II Encontro Estadual de Educação Infantil da Bahia, na cidade de  Salvador/BA, no período de 15 a 18 de novembro de 2011. O tema do encontro: Educação Infantil e Justiça Social: Direito da Criança e Dever do Estado pautou as demandas  atuais da educação Infantil no Brasil.
     Questões como o Direito da Criança, o financiamento no PNE que os brasileiros e brasileiras esperam ver aprovado ainda este ano, o CAQI, custo aluno qualidade inicial na Educação Infantil, as políticas e os programas voltados para a Educação Infantil  gestados pelo MEC/SEB/FNDE, a Inclusão e as Diversidades, com as temáticas do  Campo, Indígena e Étnico Racial, o Trabalho docente e a Formação do educador e as Culturas da Infância ocuparam os debates  dos dois dias de encontro aberto ao público, na sede do Ministério Público da Bahia.
      Nos dias anteriores ao encontro aberto, as representações estaduais discutiram as demandas do movimento, socializaram suas preocupações com relação a essas demandas a exemplo da resolução do Conselho Nacional de Educação sobre a data de corte e a adoção de políticas públicas de avaliação em larga escala do desenvolvimento da criança de 0 até 6 anos de idade e rascunharam a Carta de Salvador, documento orientador e instrumentalizador para os fóruns estaduais na defesa das pautas nacionais que tratam da Educação Infantil.
     Como educadora e representante da Uncme – AL   no FADEDI,  sei da importância de momentos assim pois afirmam  nossos propósitos diante da luta, fortalecem nossa caminhada junto aos parceiros, além de conquistarmos mais corações e mentes para a nossa causa. Momentos especiais, desde a mesa de abertura com uma criança e sua mãe na mesa, reafirmando a importância e alegria de estarem ali, as apresentações culturais dos dois dias do evento, o encerramento com a fantástica Lydia Ortélio foram motivos para que quem participou do encontro saísse de lá com a sensação boa de que há muito a se fazer ainda, mas a fé e a alegria que nos anima e impulsiona se renova, em momentos assim.
     Nos mais, rever Salvador  é sempre uma alegria e um momento especial para ir a lugares maravilhosos e especiais,  rever amigos queridos, trocar afeto e voltar de lá energizada para  mais  um ano de muita luta para fazer o direito das crianças de ter infância e ter  acesso a uma educação realmente com qualidade social referenciada. Disponibilizo aqui algumas fotos do evento do meu arquivo pessoal, além de algumas da cidade que tão bem nos acolheu nesses dias.
Por Edna Lopes

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Hoje as palavras me faltaram...

Hoje as palavras me faltaram....então os melhores sentimentos povoaram meu ser na intenção de algumas palavras lhe ofertar. Hoje as palavras me faltaram...mas o meu maior desejo é que seu caminho seja feito de flores, de amores, de tudo que possa fazê-lo cada vez mais amado e feliz. Mesmo no silêncio eu posso te ouvir, o seu silêncio ecoa as melhores vibrações. Quando encontro um rastro de amor e ternura sei que por aquele caminho você passou. Você se faz presente porque foi deixando a cada dia um pouquinho de você em mim, e a cada novo amanhecer fui aprendendo a conhecê-lo melhor, a cada novo amanhecer cresce em mim o desejo de compartilharmos um pouco dos nossos sonhos, um pouco do que somos, um pouco do que ainda vamos ser. Hoje as palavras me faltaram...mas o meu melhor desejo é continuar compartilhando com você um pouco de tudo que vivemos, um pouco de tudo que nos transformamos do que vivemos, um pouco do que ainda vamos ser com o que viveremos. Hoje as palavras me faltaram...mas eu lhe desejo um dia, um amanhã, e um 2012 feito de algo que não tenho as palavras exatas para lhe explicar, pois a dimensão do que lhe desejo ultrapassa qualquer medida, qualquer tamanho, qualquer peso, mas a dimensão do que lhe desejo cabe no tamanho do seu coração.


http://reservadeemocoes.blogspot.com/
Ivana

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Ética e Competências

Mais uma boa leitura.


Resumo:

A educação está envolvida no contexto social ao qual ela está inserida. Enquanto fenômeno histórico e social, a educação é a transmissão de cultura, é o estabelecimento. A cultura é a relação da educação e a sociedade, o mundo transformado pelo homem, porque o homem é um ser-no-mundo, o mundo está dentro do homem, há uma reciprocidade, pois o homem dele se resulta. O mundo existe para o homem na medida do conhecimento que o homem te dele e da ação que exerce sobre ele. O mundo se apresenta ao homem num aspecto de natureza, onde o mundo independe do homem para existir e que os próprios homens fazem parte em seus aspectos biológicos, fisiológicos. Existe um outro aspecto que é o da cultura, o mundo transformado pelo homem. Os homens fazem a cultura por necessidade, por sobrevivência, para satisfazer essas necessidades eles Poe em ação sua razão e sua criatividade. O homem é um ser de desejos colados às necessidades. Os desejos se manifestam como fonte do humano, propulsores da passagem do estabelecimento para o inventado. O conceito de desejo indicara a presença da liberdade associada à necessidade. 
O senso comum identifica a cultura como erudição, acúmulo de conhecimentos, atividade intelectual. Os cientistas sociais, antropólogos, conceituam cultura como tudo o que resulta da interferência dos homens no mundo que os cerca e do qual fazem parte. Ela se constitui no ato pelo qual ele vai de homo sapiens a ser humano. Assim, todos os homens são cultos, na medida em que participa, de algum modo da criação cultura, estabelecem certas normas para sua ação, partilham, valores e crenças. Tudo isso é resultado do trabalho. Por isso não se fala em cultura sem falar em trabalho, intervenção intencional e consciente dos homens rna realidade. É o trabalho que faz os homens saberem, serem. O trabalho é a essência do homem. A idéia de trabalho não se separa da idéia de sociedade, na medida em que é com os outros que o homem trabalha e cria a cultura. No trabalho o homem começa a produzir a si mesmo, os objetos e as condições de que precisa para existir. A primeira coisa que o homem produz é o mundo, mas o mundo tornado humano pela presença do homem e pela organização social que, pelo trabalho, lhe impõe.
Qualquer sociedade se organiza como base na produção da vida material de seus membros e das relações decorrentes. A cultura precisa ser preservada e transmitida exatamente porque não está incorporada ao patrimônio natural. A educação, no sentido amplo, está definida como processo de transmissão de cultura, está presente em todas as instituições, ou seja, escolas. Escola é o espaço de transmissão sistemática do saber historicamente acumulado pela sociedade, com o objetivo de formar indivíduos, capacitando-os a participar como agentes na construção dessa sociedade.
A sociedade capitalista se caracteriza por ter sua organização sustentada numa contradição básica –aquela que se dá entre capital e trabalho - e que provoca a divisão de seus membros em duas classes antagônicas, a classe burguesa e a trabalhadora. Na sociedade capitalista, a escola, enquanto instituição, tem sido o espaço de inserção dos sujeitos nos valores e crenças da classe dominante. A ideologia liberal é o elemento de sustentação do sistema capitalista, este conjunto de idéias, crenças, valores, ganha corpo e solidifica, dissimulando a realidade por interesses da classe dominante. Assim, as diferenças sociais, as discriminações, são justificadas com base em princípios considerados um contexto histórico especifico. Isso é evidente na escola brasileira. Ela é transmissora do saber sistematizado acumulado historicamente, mas deveria ser fonte de apropriação da herança social pelos que estão no seu interior. Entretanto, a população está excluída do processo educativo formal, a maioria que freqüenta a escola está não tem oferecido condições para aquela apropriação. A relação escola-sociedade, a escola é parte da sociedade e tem com o todo uma relação dialética, uma interferência recíproca e social. E contraditória, pois é um fator de manutenção e que transforma a cultura. Ela tem um conjunto de práticas que mantêm e transforma a estrutura social. 
A ação dos homens em sociedade é uma ação de caráter político, que onde o poder é um elemento presente como constituinte do social. A idéia de política esta associada ao poder, e a medida a organização da vida material determina a organização das idéias e relações de poder. Não há vida social que não seja política, pois se toma partido, de situações, não ficar indiferente em face das alternativas sociais, participar e produzir em relação com toda a vida civil e social, é ter um conjunto de intenções como programa de ação.
É preciso refletir sobre os objetivos específicos da educação, para distinguirmos da prática política, mas vemos esta pratica, na ação educativa. 
A função da educação tem uma dimensão técnica e política. O pedagogo realiza a dimensão política na prática educativa, preparando o cidadão para a vida na polis, transmitindo saber acumulado e levando a novos saberes; tecnicamente significa dizer, que a criação de conteúdos e técnicas que possam garantir a apreensão do saber pelos sujeitos e a atuação no sentido da descoberta e da invenção. Conteúdos e técnicas são selecionados, transmitidos e transformados em função de determinados interesses existentes na sociedade. O papel político da educação se revela na medida em que se cumpre as perspectiva de determinado interesse, está sempre servindo as forças que lutam para perpetuar e / ou transformar a sociedade. A escola da sociedade capitalista não tem caráter democrático, socializando o saber e recurso para apreendê-lo e transformá-lo, porque ela tem estado a serviço da classe dominante, veiculando a ideologia dessa classe. A escola quer formar o cidadão dócil e o operário. É necessário refletir e encontrar caminhos para sua transformação.
Os papeis sociais do educado são definidos levando-se em consideração as instituições onde esse desenvolve a prática dos sujeitos. O educador desenvolve sua prática no espaço da instituição que é a escola. É tarefa da escola a transmissão / criação sistematizada da cultura entendida como resultado da intervenção dos homens na realidade transformando-a e transformando a si mesmos. A escola tem características específicas e cumpre uma função determinada que resulta do trabalho e das relações estabelecidas em seu interior e na prática desses sujeitos. O educador exerce sua função tem que realizar suas obrigações e uma maneira especifica usando-se de competência, saber fazer bem, técnica e politicamente. Isto na prática significa, ter domínio no saber escolar, habilidade de organizar e transmitir esse saber, organizar os períodos de aula, desde o momento da matrícula, agrupamento de classes, currículo, e métodos de ensino, saber relacionar o preparo técnico da escola e os resultados de sua ação, e compreender a relação escola e sociedade.
O sentido político da prática docente se realiza pela mediação da competência técnica. Fazer bem é ir de encontro daquilo que é desejável, está vinculado às aspectos técnicos e políticos da atuação do educador. A ética é a mediação, pois defini a organização do saber que será vinculado na instituição escolas e na direção que será dada a esse saber na sociedade. A qualidade da educação tem sido prejudicada por educadores preocupados em fazer o bem, sem questionar criticamente sua ação. O maior problema que se enfrenta no que diz respeito as dimensões técnica e política da competência do educador, é a desarticulação na realidade. O saber fazer técnico constitui condições necessária porque é a base do querer político, ainda que a dimensão política da tarefa docente não seja percebida como tal. 
Com respeito à relação existente dentre moral e política, se percebe que os educadores não têm clareza da dimensão política de seu trabalho. Ao interpretarem política como envolvimento partidário, ou mesmo sindical, alguns até negam que tenham algo a ver com isso. Não podem se recusar a admitir a presença da moralidade em sua ação. Essa moralidade aparece de forma extremada – o moralismo.
A idéia de responsabilidade que se encontra articulada com a de liberdade, conceito que representa o eixo central da reflexão ética está ligada à noção de compromisso político e moral. Os professores não têm clareza quanto a implicação política de seu comprometimento, vêem como parte de uma essência do educador. As mulheres educadoras dão-se ênfase a afetividade. Ao desconhecimento na presença político na ação educativa e ético, aparece misturado com o sentimento e essa mistura contribui para reforçar o espontaneismo e para manter as falhas da instituição escolar.
É necessário evitar o moralismo, mas não é possível desvincular moral e política, buscar discutir os valores morais dominantes na sociedade. A ética da competência pode ajudar-nos a desvelar elementos da ideologia que permeia nossa educação. Não há como afastar a subjetividade que está presente na valorização, na intencionalidade que se confere a prática social.
É preciso distinguir subjetividade de singularidade ou individualidade. O singular é o que diz respeito ao individuo, as pessoas de sua atuação que o distinguem dos demais e é na vida em sociedade que ele adquire essa individualidade.
O comportamento do homem é político enquanto razão e palavra. E a moralidade são as escolhas exigências de caráter social no que se chama de técnico no ensino, no trabalho educativo. Essas escolhas têm implicações ético-política. Vontade, liberdade, conseqüência são conceitos do terreno ético político. A articulação entre esses conceitos é que nos auxilia na busca da compreensão da com potência do educador, pois não basta levar em conta o saber, mas é preciso querer. O saber e a vontade nada valem sem a explicitação do dever e a presença do pocer desvinculado da dominação. Mas no poder na conjugação de possibilidades e limites representando pelas normas que regem a prática dos homens em sociedade. Deveres que se combinam com direitos e estão ligados à consciência e a vontade dos sujeitos.
Ao lado do saber que se identifica com o domínio dos conteúdos e das técnicas para a transmissão temos o saber que sabe, a consciência de percepção da realidade crítica e reflexiva. 
A visão crítica é um primeiro passo a ter um compromisso político. Depois a vontade e a intencionalidade do gesto do educador. 
A necessidade presente no contexto socioeconômico é o primeiro motor de ação do educador, a vontade de articular a consciência é essencial a prática político moral do educador a liberdade responsável. O educador deve associar a coletividade rompendo com a idéia dominante do pensamento burguês que é a de individualismo.
A idéia de promessa dá-se a noção de compromisso, o empenho da prática e envolvimento com a realização do prometido. Na maioria das situações é preciso criar essas circunstâncias. O gesto de compreensão e a ética no envolvimento com aquilo que se tem por objetivo. Compreensão é saber aprofundado e envolvimento ético-politico do saber.
É preciso que o educador competente seja um educador comprometido com a construção de uma sociedade justa, democrática interferindo no real e na organização de relações de solidariedade e não de dominação entre os homens.
A escola deve ser um espaço de predominância do consenso e da persuasão. Onde o consenso resultaria de aproveitar o espaço existente na sociedade civil para seu fortalecimento e para a transformação necessária na estrutura social.
A dimensão técnica carrega a ética, onde a ética é a mediação da técnica e da política expressando a escolha técnica e política dos conteúdos, dos métodos, dos sistemas de avaliação e os desvendando-os.
Técnica, ética, política são referências que devemos descobrir na nossa vivência real em nossa prática. É a reflexão que transforma o processo social educativo em busca de uma significação mais profunda para a vida e o para o trabalho. 
O educador competente terá de ser exigente, sua formação deverá ser a formação de um intelectual atuante no processo de transformação de um sistema autoritário e repressivo: o rigor será uma exigência para sua prática. O educador se contribuirá da filosofia para a educação e reflexão crítica a busca de sua compreensão.
A visão do professor e de educação é de mediar a ação mediadora. A relação professor-aluno. Educador-educando, é a aquisição do conhecimento, onde ambos são sujeitos conhecedores. O professor estabelece o diálogo do aluno como o real. O objeto que é o mundo é apreendido, compreendido e alterado, numa relação que é fundamental – a relação aluno-mundo. O professor é quem especifica a mediação do saber entre o aluno e a cultura e a realidade.
Há fatores intra e extra-escolares que interferem na prática dos educadores. É no cotidiano de nossas práticas que estamos construindo a educação, que estamos fazendo a história da educação brasileira. E é o educador que vai encaminhar o educador que queremos ter. O desafio está na necessidade de se superarem os problemas e se encontrarem / criarem recursos para a transformação. Isso se concretiza na elaboração de projetos de ação.
Ao organizar projetos, planejamos o trabalho que temos a intenção de realizar, lançamos-nos para diante, olhamos para frente, projetar é relacionar-se com o futuro, é começar a fazê-lo. O presente traz no seu bojo o passado, enquanto vida incorporada e memória. É isso que garante a significação do processo histórico. Começamos a escola do futuro no presente. Quando se projeta, tem-se que em mente um ideal. O ideal é utópico, mas é preciso recuperar o sentido autentico de utopia, que é algo ainda não realizado.
A escola deve desenvolver um trabalho coletivo e participante, tendo como pressuposto que o trabalho que se realiza com a participação responsável de cada um dos sujeitos envolvidos é o que atende de forma mais efetiva as necessidades concretas da sociedade em que vivemos. É preciso que ele seja possível . O que ainda não é pode vir a ser. O possível ainda não está pronto, deve ser construído. 
A idéia de projeto e a de utopia está ligada à idéia de esperança, movimento, que é alimentada pela ação do homem. A organização de projetos utópicos é uma forma de se enfrentar as crises.
A história se faz na contraposição de valores, na descoberta e instituição de novas significações para as ações e relações humanas. Mas a crise pode configurar-se como uma ruptura, uma negação de a própria dinâmica da cultura, uma ameaça de imobilidade, sob a forma de um suposto movimento de desordem.
Cada momento histórico apresenta aos homens um desafio. A crise ética em nossa sociedade contemporânea é o grande desafio da competência. A crise moral é o desafio a ética, porque significa uma indiferença diante de valores.
A atitude cínica nos provoca na medida em que é uma atitude de desconsideração das normas e dos valores que as sustentam. 
Na ação competente, haverá sempre um componente utópico no dever, no compromisso, na responsabilidade. A competência é construída cotidianamente e se propõe como um ideal a ser alcançado, ela é também compartilhada, por outras pessoas, a qualidade de seu trabalho não depende só de uma pessoa. A competência do profissional e na articulação dessa competência com os outros e com as circunstâncias.
Na direção do bem comum, da ampliação do poder de todos como condição de participação na construção coletiva da sociedade e da histórica, apresenta-se ao educador, como profissional, em meio a crise,. A necessidade de responder ao desafio. Ele o fará tanto mais competentemente quanto mais garantir em seu trabalho, no entre cruzamento das dimensões que o constituem. A dimensão utópica. Esperança a caminho.


Ética e Competência
RIOS, Terezinha Azeredo
Editora Cortez



sábado, 10 de dezembro de 2011

Na festa das Águas

“Alagoanos e alagoados, as restrições espaciais que a prefeitura de Maceió propõe para a manifestação dos cultos afro-alagoanos neste dia 8 de dezembro são emblemáticas da falta de sensibilidade cultural da administração da cidade. Maceió é uma cidade tão mestiça, tão miscigenada como qualquer outra urbe brasileira. É um absurdo querer desconhecer ou restringir as manifestações de sua dimensão afro. O senhor prefeito deseja ser conhecido por ter vindo do povo e por dar espaço em sua gestão aos seus problemas, mas o que vemos é que esse povo reivindicado pelo prefeito é um povo inventado e não o maceioense real, é um povo sem especificidade, sem cultura própria, sem iniciativa política, é um povo submisso às elites. Mas o povo real vai se levantar, está ganhando consciência cultural e política, já conta com novos mediadores culturais e políticos, e saberá dar o troco hoje e nos próximos embates, como na eleição do ano que vem. Nem o Quebra dos Terreiros, em 1912, conseguiu acabar com a resistência das religiões afro-alagoanas, mesmo que o Xangô tenha passado a ser rezado baixo por décadas. Hoje seria um bom dia para a desobediência civil generalizada às restrições claramente discriminatórias impostas pela prefeitura, hoje seria um bom dia para que a rebeldia atávica do povo alagoano, que já se encarnou em Zumbi e Vicente de Paula, por exemplo, apareça em todo seu esplendor. Que os atabaques toquem alto e que um povo mestiço mostre a riqueza de suas crenças.  Golbery Lessa via facebook de Ana Claúdia Laurindo
 

     Depois de ler uma provocação como esta, quem, com seu juízo no lugar e em sã consciência ficaria em casa? Quem, que em algum momento de sua vida defendeu a livre expressão, o direito inalienável de professar sua fé - direito este afirmado na Constituição Federal, que parece ser desconhecida das autoridades de plantão da nossa cidade – não se sentiria desafiado a juntar-se ao real povo dessa cidade e defender esse e todos os direitos conquistados muitas vezes a custa do sangue e da vida de outros?
     Cada vez que me pergunto por que a alegria, as expressões da religiosidade dos cultos de matriz africana, os paramentos, as músicas e as danças, provocam o temor e a intolerância de alguns, respondo-me que na raiz de tudo está o preconceito, a desinformação, o desrespeito com tudo que se refere e se aproxima do povo negro, mais da metade da população brasileira, que luta diuturnamente para ter respeitado seus direitos, para não serem ignorados e tratados com cidadãos de segunda classe.
     Cheguei à festa no fim da tarde e me chamou a atenção a criançada que se divertia correndo na areia e no espaço dos shows. Elas, os pequenos Erês de sorriso confiante e nenhum temor em demonstrar sua alegria traduziam em mim o sentimento maior de um momento como aquele: a celebração da vida, o respeito ao direito de todos e de cada um deveria ser o mandamento principal para o convívio do seres dito humanos, nessa dimensão.
     Fui recebida com um abraço e um sorriso de um deles e logo o convidei para me acompanhar até a praia para fazer umas fotos. A maturidade de Rafael do alto dos seus nove anos me animou:-“Não é um absurdo, tia Edna, proibir as pessoas de fazerem suas oferendas e tocarem aqui na praia depois da “5 horas”? “O que é que tem demais fazer isso?”
 - “É sim, Rafa. É um absurdo e um desrespeito. E não tem nada demais não. Apenas ignorância desses que proíbem...”
     O sentimento de Rafael, filho da amiga Luciana e do amigo e colega de trabalho, o jornalista Mauro Fabiani e o meu, era o de centenas de pessoas que ali estavam. Nos pronunciamentos nos intervalos das apresentações culturais, lideranças religiosas, intelectuais, lideranças de grupos comunitários e culturais manifestaram sua indignação para com a atitude intolerante e desrespeitosa das autoridades que limitaram o espaço e o tempo para oferendas e toques na orla de Maceió, inclusive com ameaça de recolhimento dos instrumentos.
     Impossível não se indignar ao lembrar do Quebra dos Terreiros em 1912, quando no dia 02 de fevereiro, uma Yalorixá* (Tia Marcelina) foi assassinada por policiais a serviço da elites desse estado.Os terreiros foram destruídos e seus adeptos perseguidos e silenciados. Será que 99 anos depois, a história vai se repetir?
     O sentimento de Rafael e o meu era o de centenas de pessoas que ali permaneceram até a última apresentação, o show da sambista Leci Brandão (Maravilhoso!), e seguiram em cortejo até a feirinha da Pajuçara, afirmando o propósito de reivindicarem o direito de expressar sua cultura, seu credo religioso e não se intimidarem com “autoridades” que pensam e agem como se a lei fosse uma corda esticada que pode ser levantada e abaixada seguindo suas conveniências.
     Na Festa das Águas, um sentimento bom de pertencer a essa parcela de povo que não se dobra. Pude rever amigos e amigas, pessoas queridas que têm, como eu, compromisso com a militância pela vida, não apenas pregando tolerância mas respeitando todos e cada um no exercício do seu direito.

* sacerdotisa e chefe de uma casa de Axé (templo da religiosidade de matriz africana)



Quem quiser saber mais veja o documentário O Quebra do Xangô, de Siloé Amorin, que mostra as consequências do episódio para a vida e a cultura alagoana, além da tese "Xangô rezado baixo: um estudo da perseguição aos terreiros de Alagoas 1912", de Ulisses Rafael, Doutor em Sociologia e Antropologia pela UFRJ, disponível em PDF nesse link:

http://www.ifcs.ufrj.br/~ppgsa/doutorado/Texto_completo_46.PRN.pdf


Por Edna Lopes

Link para comentários no texto :http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/3380263

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

PARABÉNS MACEIÓ!!!! 172 anos.

Foto: Magnólia




DEUS - cidadão de Maceió

Quando Deus criou o mundo
E resolveu descansar
Veio para Maceió
E não queria voltar

Fez aqui seu paraíso
Deu-lhe um lindo céu de anil
Transformou nossas lagoas
Nas mais lindas do Brasil

Criou nelas nove ilhas
E um viçoso manguezal
fez praias de areias alvas
De Ipioca ao Pontal

Fez um mar esverdeado
Um luar encantador
Um coqueiral verdejante
E um povo de valor

Foi até nossos mirantes
Viu praias e o coqueiral
Ficou dizendo baixinho:
"Eu nunca vi coisa igual!"

Ele muito se orgulhava
Das coisas boas que fez
E citava Maceió
Onde passou mais de um mês

Gostou muito de peixada
De camarão e pitú
De caranguejo e siri
de lagosta e sururu

Tomou banho em Pajuçara
Encontrou-se com a beleza
E chamava a linda praia
Pupila da natureza

Nos domingos ensolarados
Nas piscinas naturais
Deus passava o dia inteiro
E não esquece jamais

Acordava bem cedinho
Na Jatiúca ia andar
Na Manguaba e Mundaú
Ele adorava pescar

Andou de lancha e jangada
E num veloz jet-sky
E disse para Adão e Eva:
"Vou deixar vocês aqui!"

Ao terminar seu descanso 
E aproveitar do melhor
DEUS se auto intitulou:
CIDADÃO DE MACEIÓ.

Autor: José Arnaldo Lisboa Martins

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Educação Infantil

Olá pessoal!
Mais uma boa dica de leitura para quem trabalha com a Educação Infantil.
Autora: Zilma de Moraes Ramos de Oliveira

Coleção: Docência em Formação




Este livro aborda aspectos que historicamente têm orientado a ideia de quais seriam as funções da creche e da pré-escola enquanto instituições de atendimento e educação de crianças pequenas e de como o cotidiano delas deva ser organizado. Discute o dualismo com que as funções dessas instituições têm sido pensadas em razão da camada social atendida: custódio-assistencial para os mais pobres e educativo-desenvolvimentista para as crianças dos meios sociais mais favorecidos. Destaca elementos para a construção de uma proposta pedagógica por parte das instituições infantis com base numa visão de desenvolvimento como processo sociocultural que envolve a criança como um todo na interação com parceiros diversos em ambientes simbolicamente estruturados e com base no reconhecimento da importância de um trabalho com as famílias na promoção do direito das crianças à infância.

Sumário


Aos professores; Apresentação da coleção; Prefácio à nova edição; Razões para este livro; Capítulo I - Uma introdução ao tema; Capítulo II - Pode-se falar em uma escola da infância?; 1. Metas almejadas; 2. Educação para a cidadania e para o convívio com diferenças; Capítulo III - Os primeiros passos na construção das ideias e práticas de educação infantil; 1. Lar, "doce" lar; 2. Pioneiros da educação infantil; 3. A construção de concepções teóricas sobre a educação da infância; 4. Um olhar sobre as novas propostas educacionais; Capítulo IV - A educação infantil europeia no século XX; Situação atual da Europa; Capítulo V - Os primeiros passos da história da educação infantil no Brasil; O Brasil República; Capítulo VI - Novos tópicos na história da educação infantil no Brasil; Capítulo VII - A construção social da criança; 1. O desenvolvimento humano é um processo de construção; 2. Dois autores interacionistas; 3. Vygotsky; 4. Wallon; Capítulo VIII - O desenvolvimento humano é uma tarefa conjunta e recíproca; As interações criança-criança como recurso de desenvolvimento; Capítulo IX - O desenvolvimento da motricidade, da linguagem e da cognição; 1. O desenvolvimento da motricidade; 2. O desenvolvimento linguístico; 3. A construção do pensamento infantil; Capítulo X - A brincadeira e o desenvolvimento da imaginação e da criatividade; Capítulo XI - A parceria com a família na educação da criança; Capítulo XII - A busca de uma proposta pedagógica; Construindo parâmetros de uma adequada educação infantil; Capítulo XIII - Educação e saúde; Capítulo XIV - Os ambientes de aprendizagem como recursos pedagógicos; Capítulo XV - Uma pedagogia interacional na educação infantil; Interações criança-criança; Capítulo XVI - O conhecimento enquanto rede de significações; Capítulo XVII - A organização de atividades culturalmente significativas; 1. O trabalho pedagógico com múltiplas linguagens; 2. O jogo como recurso privilegiado de desenvolvimento da criança pequena; 3. A pedagogia de projetos didáticos; Capítulo XVIII - O trabalho com crianças com necessidades educativas especiais; Capítulo XIX - A avaliação na educação infantil.

Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil

Oi pessoal, agradeço a todos que pedem mais informações sobre a Educação Infantil através do blog e de email.
Mais um documento importante do MEC para quem está envolvido com a Educação Infantil

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil que foi homologada em 17 de dezembro de 2009, após um processo democrático que envolveu audiências públicas em diferentes cidades do Brasil, incluindo São Paulo, na qual eu participei.
      É imprescindível que conheçamos essa lei pois são os princípios e determinações ali expostas que regem a educação infantil em nosso país. 
      Um grande abraço!
      www.undime.org.br/htdocs/download.php?form=.pdf&id=1260
Janaina Maudonnet

Parâmetros Nacionais de Qualidade Para a Educação Infantil

Outro documento do Ministério da Educação:Parâmetros Nacionais de Qualidade Para a Educação Infantil. 
    Desde que a Prof. Rita Coelho assumiu a Coordenadoria de Educação Infantil, da Secretaria de Educação Básica do MEC , vários debates estão ocorrendo na área e muitos documentos estão sendo produzidos. E é muito importante que estejamos atentos a eles.
      A Prof. Rita Coelho é uma conhecida militante da Educação Infantil e foi presidente do Movimento Interfóruns de Educação Infantil no Brasil - MIEIBI. 
      Os Parâmetros Nacionais são referências para supervisão, controle e avaliação das Unidades Educacionais que lidam com a infância. O primeiro volume discute o conceito de qualidade em Educação infantil e a legislação da area. Já o segundo trata das competências dos sistemas de ensino, apresenta  a caracterização das Instituições de Educação Infantil no Brasil e  aponta os Parametros de qualidade, no que se refere: a proposta pedagógica, a gestão das instituições, os profissionais da infância e a infra-estrutura.
       Abaixo seguem os links: 

Aqui vai o link para todas as publiações do MEC para a área da Educação Infantil.
Janaina Maudonnet

Educação Infantil - Documentos do MEC



Indicadores de Qualidade na Educação Infantil


"Indicadores de Qualidade da Educação Infantil", do Ministério da Educação.
    Esse documento, publicado em 2009, trata-se de uma bom subsidio para que as instituições de educação infantil avaliem suas práticas.
    Está dividido em sete dimensões de qualidade para análise: planejamento institucional, multiplicidade de experiências e linguagens (formas de a criança conhecer e experimentar o mundo e se expressar); interações (espaço coletivo de convivência e respeito); promoção da saúde; qualidade e condições dos espaços, materiais e mobiliários; formação e condições de trabalho das professoras e demais profissionais; cooperação e troca com as famílias e participação na rede de proteção social.
     Para cada uma dessas dimensões, há questões que orientam a avaliação na instituição.
     Além disso, há sugestões de como garantir que esse processo avaliativo seja participativo e formativo.
Segue o link.
   gttp://www.acaoeducativa.org.br/portal/index.php?option=com_content&task=view&id=1760&Itemid=2
Janaina Maudonnet
    

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Sala de aula

Central de Ensino e Aprendizado de Alagoas - CEAP
Turma de Especialização em Gestão Educacional









Encerramento do módulo
Turma X












sexta-feira, 25 de novembro de 2011

SOBRE CLARICE LISPECTOR




Clarice (seu nome era Haia Lispector) nasceu em 10 de dezembro de 1920, na Ucrânia. Sua família veio para o Brasil fugindo da perseguição aos judeus, após a Revolução Bolchevique de 1917. Em 1921 a família chegou ao Brasil e foi para Maceió. Portanto Clarice estava com 2 anos. Pouco tempo depois, em 1924 mudam-se para Recife - onde residiram por 9 anos - em busca de novas perspectivas de trabalho, período em que piora a doença da mãe - de paralisia progressiva que a tornou inválida, até morrer em 1930.

Pela morte de sua mãe, estas palavras de Clarice, numa de suas crônicas...

'Fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente e, por superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje esta carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que meus pais me perdoaram eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande esperança. Mas eu não me perdoo'.

Embora Clarice tenha dito que levava uma vida corriqueira, que criava seus filhos, cuidava da casa, gostava de ver os amigos e que o resto era mito, mesmo assim se tornou uma mulher que desperta muita curiosidade pela sua personalidade diferenciada, embora insistisse em preservar-se. Mas contudo sempre parece misteriosa, exótica, difícil de entendê-la. Incrivelmente enigmática. Falava inglês, francês e o ídiche, língua de sua mãe.

Em 1931, Clarice com 7 anos já escrevia contos e os mandava para a seção infantil do Jornal de Pernambuco, mas foram recusados por seus contos tratarem de sensações ao invés de fatos.

Em 1938 iniciou o curso de Direito na Universidade do Brasil e neste ano publicou seu primeiro conto, Triunfo no jornal Pan e trabalhou como jornalista na Agencia Nacional e no jornal A Noite . Em 1940 seu pai faleceu; era um homem sofrido, teve uma vida marcada pela pobreza. Trabalhava como mascate no Brasil.

Em 1943, Clarice casou-se com seu colega de faculdade Maury Gurgel Valente que ingressou na carreira diplomática e em 1944 mudaram-se para Belém do Pará e depois para Nápoles (Itália). Depois para Suíça, Inglaterra, Estados Unidos, entre outros. E em Nápoles serviu um hospital da Força Expedicionária Brasileira.

Seus próprios textos revelam possuidora de uma identidade inquieta e turbulenta, difícil de adaptar-se a expectativas sociais, obsessiva em conhecer a si e também aos outros, desmascarando a falsidade das ilusões do cotidiano, um mundo de desejos fúteis. Certamente que sua vida seguiu normal quanto a ter seus dois filhos Pedro (1948) e Paulo (1953), suas viagens para países onde seu marido era transferido, em cuidar de seu lar etc. O que era diferente em Clarice era sua essência.
Porém, em 1959 Clarice separou-se do marido e regressou ao Brasil, assumindo a coluna Correio Feminino – feira de utilidades, com o pseudônimo de Helen Palmer, no Correio da Manhã.

Mas o que terá Clarice que provoca tanto fascínio em alguns e perplexidade em outros? O que terão seus contos, romances, crônicas e livros infantis publicados que no decorrer de tantos anos se fala nela com entusiasmo, curiosidade à procura de decifrá-la, de classificar seu estilo, de defini-lo de enquadrá-la? Suas citações, seus pensamentos são procurados e com os quais milhares de pessoas se identificam ou tentam desvendar algum mistério ainda não descoberto.

Com uma máquina de escrever no colo produzia seus livros com os filhos ao redor, atendendo o telefone, chamando a empregada, recebendo os amigos... Sim, sua vida doméstica era igual a de todas as mulheres de sua classe, mas com a diferença que a tornou uma das mais importantes escritoras brasileiras. Faz crer que sua vida foi simples, mas sua literatura é uma marca, uma griffe. Em 1967 Clarice feriu-se gravemente num incêndio em sua casa, provocado por um cigarro que causou-lhe graves queimaduras nas mãos. Mas recuperou-se.

'Meus livros, infelizmente para mim, não são superlotados de fatos e sim da repercussão dos fatos nos indivíduos'.

Sua ficção transcende o tempo e o espaço; aborda neles situações em que seus personagens expõe todas suas paixões, suas angústias seus estados de alma. Por isso tudo - e não só por isso - é que Clarice se tornou uma das principais escritoras brasileiras e que tem mais despertado o interesse dos críticos e dos estudiosos da literatura. Expõe ao leitores questões muito particulares, como as questões entre a literatura e a vida, a representação e a subjetividade, os valores sociais e a busca da liberdade.

Entre muitas críticas, 'Laços de Família' possui um texto inovador que na sua originalidade flerta com o pensamento existencialista de Sartre demonstrando que Clarice, além de uma autora competente na reinvenção da forma, bastante aberta à influência à influência das vanguardas intelectuais de sua época. Por esta obra recebeu o Prêmio Jabuti, na categoria contos, crônicas e novelas. Seus contos falam - através de seus personagens -, do tédio, da náusea, do encantamento social, da selvageria e hostilidade de um mundo nada confiável.

Na época, Erico Veríssimo – padrinho de um de seus filhos,  manifestou-se: 'Não te escrevi sobre teu livro de contos por puro encabulamento de te dizer o que penso dele. Aqui vai; é a mais importante coleção de histórias publicadas neste país na era pós-machadiana'.

'O que recebi de herança não me chega. Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que minha abordagem do português fosse virgem e límpida'.

Apesar de Clarice ter recebido muitos 'Nãos' pela vida, e mesmo quando já recebera muitos prêmios, entre eles o Prêmio Graça Aranha - pela ABL, não desistiu de escrever; esta era a sua maneira de pensar e entender o mundo. Veio a falecer em 9 de dezembro de 1977 - no Rio de janeiro - de câncer no ovário aos 57 anos.
'Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro...'

ROMANCES:
Perto do coração selvagem / O Lustre / Cidade Sitiada / A maçã no escuro / A paixão segundo GH / Uma Aprendizagem / Água Viva / A Hora da Estrela / Um Sopro de Vida.

CONTOS:
Alguns Contos / Laços de Família / A Legião Estrangeira / Felicidade Clandestina / A Imitação da Rosa / A via crucis do corpo / Onde estiveres de noite.

CRÔNICAS:
Visão do Esplendor / Para não esquecer.


LITERATURA INFANTIL:
O Mistério do coelho pensante / A mulher que matou os peixes / A vida íntima de Laura / Quase de verdade.

OBRAS PÓSTUMAS:
A Bela e a Fera / A Descoberta do Mundo / Como Nasceram as Estrelas / Cartas perto do Coração / Correspondências / Aprendendo a Viver / Outros Escritos / Correio Feminino / Entrevistas / Minhas Queridas / Só Para Mulheres.


Tais Luso - http://taisluso.blogspot.com/