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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Educação Infantil




Livro: Fundamentos da Educação Infantil: Enfrentando o desafio
Autores: Janet Moyles e colaboradores

Auxiliar os profissionais que trabalham com crianças a lidar com questões e desafios de forma profissional e sensível sem perder de foco a importância de oferecer atendimento personalizado a cada um dos pequenos. Isso é o que a professora e consultora em educação infantil Janet Moyles aborda no livro Fundamentos da Educação Infantil - Enfrentando o desafio.

Na obra a especialista destaca que o ritmo das mudanças nos serviços de educação infantil está cada vez mais veloz, que a profissão sofreu alterações que hoje fazem com que seja vista de uma outra forma. "Na última década a nossa profissão foi transformada de um serviço de baixo status de 'cuidar' de crianças pequenas, amplamente considerado como uma extensão do papel de cuidadora das mulheres de família e, portanto, um papel profissional mais baseado no instinto e na experiência do que na formação ou qualificação, em um instrumento de transformação social crucial para criar uma sociedade melhor e atender a objetivos tanto sociais quanto econômicos".

Segundo a autora a rápida mudança, em muitos sentidos, é gratificante, pois mostra que o trabalho junto à educação infantil conquistou reconhecimento. "Ver o nosso trabalho sendo valorizado como um profissional que dá apoio às famílias, mostra-se presente e intervêm na vida das crianças pequenas de modo a garantir seu desenvolvimento físico e intelectual e o desenvolvimento de sua identidade e de seus relacionamentos é muito bom, ao mesmo tempo que é desafiador", destaca Janet.

A cada nova iniciativa do profissional da educação infantil acarreta um conjunto de regulamentos e de requerimentos e novas responsabilidades nos quais somente os mais fortes e resilientes conseguem manter inabalável a sua confiança profissional.

"Os nossos papéis profissionais também estão mudando, conforme os profissionais de educação infantil de diferentes campos de prática aprendem a trabalhar juntos nos interesses das crianças e famílias, e conforme os especialistas em educação infantil se aventuram cada vez mais fora do mundo da pré-escola e assumem um papel de liderança na construção de políticas sociais e na formulação de uma visão de sociedade", enfatiza a autora.

Dilemas da profissão

No título a especialista apresenta pontos que ainda geram dúvidas nos profissionais que atuam na educação infantil:

. Como manter-se fiel ao compromisso com a criança pequena, desenvolvido por meio da nossa formação e experiência a, ao mesmo tempo, abrir-se para novas interpretações e novas intervenções.
. Como manter um foco preciso na criança que está sob nosso cuidado imediato e, ao mesmo tempo, observar com atenção o quadrado maior, nacional e internacional, que dá forma a essa responsabilidade.
. Como manter nossa identidade profissional de 'educadores' e, ao mesmo tempo, compreender e aceitar novos papéis como responsáveis por uma série de consequências, bem mais amplas, para as crianças e famílias.
. Como combinar a posição tradicionalmente modesta e local, da nossa profissão com o papel de liderança, mais assertivo e mais político, atualmente exigido.
Diferenciais
. Auxilia os profissionais que trabalham com crianças a lidar com diversas questões e desafios de modo sensível e profissional;
. Dá especial ênfase na necessidade de personalizar o atendimento de cada criança e refletir cuidadosamente sobre as próprias experiências e as das crianças;
. Escrito de forma clara e acessível. 
Público-alvo
Professores, educadores, formadores de professores, profissionais da educação infantil, formadores de políticas públicas.

A autora 
Janet Moyles -
 É autora de livros sobre os primeiros anos de vida e consultora educacional em Leicester, Reino Unido. Foi professora titular de educação e pesquisa sobre a infância inicial na Anglia Ruskin University.


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

MIEIB - Movimento Interfóruns de Educação Infantil

  Mariéte Félix Rosa 
A partir da Constituição de 1988, as crianças de zero a seis anos de idade adquiriram o direito de serem educadas e cuidadas em creches e pré-escolas, sendo assim respeitadas como cidadãs, sujeitos de direitos.

Essa garantia foi reafirmada pela Lei nº 8.069/90, que criou o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN nº 9394/96, constituiu a Educação Infantil - Creche e a pré-escola, como primeira etapa da Educação Básica e, posteriormente Plano Nacional de Educação veio estabelecer, para esta etapa, diretrizes e metas que não foram cumpridas, principalmente no que diz respeito a expansão do acesso para as crianças de zero a três anos.

As crianças pequenas também foram contempladas, a luz de muita luta, no FUNDEB e atualmente contam com uma série de documentos tais como: Parâmetros de Qualidade e de Estrutura, Indicadores de Qualidade e Diretrizes Nacionais para Educação Infantil, construídos com os diversos movimentos que defendem uma educação infantil de qualidade e para todas as crianças que a almejam.

No entanto, enquanto sujeito de direitos, como todos os brasileiros, as crianças de zero a seis anos estão sendo paulatinamente ameaçadas nestes direitos conquistados.

Dessa forma, a sociedade civil, as diversas áreas governamentais e não governamentais que lutam e defendem a Educação Infantil, têm se mobilizado para garantir que tais direitos não sejam usurpados ou esquecidos. Esta é uma das funções dos “Fóruns de Educação Infantil”.

Aqui no Mato Grosso do Sul, temos o “Fórum Permanente de Educação Infantil” atuando desde outubro de 1994.  Somos parte do Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil – MIEIB, que agrega vários Fóruns Estaduais de Educação Infantil.

Atuamos enquanto Fórum Estadual em defesa da Educação Infantil, não somos um órgão ou instituição governamental, embora tenhamos representantes desta esfera, bem como, da não-governamental e da sociedade civil.

Não temos fins lucrativos e não temos um local fixo para a realização das nossas reuniões. Portanto, dependemos da nossa organização e disponibilidade dos locais para que possamos realizá-las o que pode ocorrer tanto em âmbito Estadual, Municipal, Federal e Não-governamental. Encontramo-nos mensalmente, em reuniões abertas a todos os interessados. Os temas, as discussões, as ações e a nossa programação são pensadas conjuntamente, ou ainda, emanadas das problemáticas e necessidades de cada momento histórico.

O Fórum de EI de MS é coordenado por um grupo gestor representado por algumas das esferas citadas, com uma coordenadora que agiliza as convocações e os encaminhamentos.

Para o ano de 2010, dentre as atividades mensais, teremos um Seminário de Educação Infantil da Região Centro-oeste no mês de maio.Observem o cronograma abaixo.

Defender e garantir os direitos da criança, entre este a educação, cabe a todos nós. Portanto, venha compor conosco, participando e ampliando os debates através do Fórum Permanente de Educação Infantil.

Profª Drª Mariéte Félix Rosa
Membro do Conselho Gestor
representante da Sociedade Civil



Criança com 5 anos poderá cursar 1º ano em 2011

22/10/2010 - Estadão Online
Crianças com 5 anos de idade que frequentaram dois anos de educação infantil podem, em caráter excepcional, ser matriculadas no 1.º ano do ensino fundamental em 2011, segundo resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE) publicada ontem no Diário Oficial. Para os demais casos, a matrícula no ensino fundamental deve ser para crianças com 6 anos completos até 31 de março.

As mesmas recomendações e o caráter "excepcional" para a matrícula de crianças com 5 anos haviam sido feitas no ano passado. Desde o início da implantação do ensino fundamental de nove anos, em 2007, o corte etário tem provocado polêmica. Conselhos estaduais de educação estabelecem datas próprias e decisões judiciais têm garantido a matrícula de todas as crianças de 5 anos.

Este ano, a resolução também orienta que as matrículas na pré-escola sejam feitas para crianças a partir de 4 anos. Antes disso, elas devem frequentar creches. "A regulação para o ensino infantil acerta o assunto da idade já na entrada do ensino básico", afirmou Cesar Callegari, da Câmara de Educação Básica do CNE.

Callegari defende que as crianças de 5 anos ainda não estão maduras o suficiente para ingressar no fundamental, mas crê que a exceção será benéfica para quem já frequentou a educação infantil por dois anos. "A exceção é para que a criança não perca um dos patrimônios adquiridos na escola, que é o grupo. Ela não será diferenciada, não ficará para trás em relação aos colegas."

Carlos Eduardo Sanches, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), considera "problemática" a flexibilização. "Entendemos as razões dos CNE, mas estamos apreensivos. Já solicitamos uma audiência com o Ministério da Educação porque queremos uma emenda constitucional para tratar da questão."

Sanches cita que em São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul adotam cortes etários diferentes. "Assim é difícil estruturar o sistema educacional. Deve haver uma regra única."

Como Callegari, Sanches prefere que apenas crianças com 6 anos ingressem no fundamental. "Estudos comprovam que a entrada precoce pode provocar um trauma e comprometer toda a trajetória escolar da criança."

ORIENTAÇÕES
1º ano do fundamental
Devem ser matriculadas crianças com 6 anos completos até 31 de março de 2011. Exceção para as de 5 que tenham feito dois anos de educação infantil.

Educação infantil
Para crianças com 4 anos completos até 31 de março de 2011.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Marisa Monte- Esqueça

15 DE OUTUBRO - DIA DO PROFESSOR

“Sou professor (a) a favor da descendência contra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura de direita ou de esquerda.
Sou Professor (a) a favor da luta constante contra qualquer forma de discriminação, contra a dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais.
Sou Professor (a) contra a ordem capitalista vigente que inventou esta aberração: A miséria na fartura.
Sou Professor (a) a favor da esperança que me anima apesar de tudo.
Sou Professora (a) a favor contra o desengano que me consome e imobiliza.
Sou Professor (a) a favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não luto pelas condições matérias necessárias sem as quais meu corpo, descuidado, corre o risco de se amofinar e de já não ser o testemunho que deve ser de lutador pertinaz que cansa, mas não desiste”.

PAULO Freire, Pedagogia da Autonomia, 1996

O ABC DO GRANDE MESTRE
  
Atenção nos ensinamentos;
Bondade para com seus alunos;
Compromisso com a educação;
Dedicação ao trabalho;
Elasticidade nas dificuldades;
Força de vontade para vencer o analfabetismo;
Garra para prosseguir na busca de novas conquistas;
Humildade para ensinar;
Integridade com o ofício;
Jamais desistir de aprender;
Lealdade com o aluno;
Muito empenho;
Não reprimir o desejo de aprender do aluno;
Otimismo diante dos fracassos;
Perseverança para superar barreiras;
Querer ser um vencedor;
Resistência para vencer obstáculos;
Seriedade para romper a ignorância;
Tenacidade nas aplicações;
União com os alunos;
Veracidade ante os desafios
Xodó com a arte de ensinar
Zelo pelo ofício.

Nildo Lage
 
 
 

domingo, 10 de outubro de 2010

PALAVRAS

Palavras expressam tudo, ou nada. Palavras descrevem o inexplicável. Palavras magoam, ofendem e causam desentendimentos. Palavras criam oportunidades, criam amizades e vínculos extraordinários. Palavras aperfeiçoam, explicam. Palavras são capazes de corrigir mais do que qualquer ato. Palavras evoluem e fazem evoluir. Palavras surgem e deixam surgir. Palavras fazem com que livros tenham magia. Palavras fazem com que melodias tenham significado. Palavras afastam ou unem pessoas. Palavras fazem com que as pessoas reflitam. Ou não. Palavras agridem. Palavras acolhem. Palavras criam desejos. Palavras enfeitiçam, seduzem e provocam. Palavras podem ser amáveis ou grosseiras. Podem dizer muito, ou nada. Podem traduzir qualquer sentimento. Palavras permitem que as pessoas brinquem com elas próprias. Palavras podem ser apenas palavras, ou podem ser muito mais do que uma vida inteira. Palavras fazem as guerras. Palavras buscam a paz. Com as palavras, podem-se tudo.

(NÃO CONHEÇO O AUTOR)

domingo, 3 de outubro de 2010

Jorge Ben Jor - Magnolia - Citibank Hall

Para uma pedagogia da infância

                                  
Começar aos 6 anos de idade a escola de 9 anos pode significar uma profunda transformação na escola e no sistema de ensino

     Neste artigo, falo da infância das crianças de 0 a 12 anos, como define o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Falo da primeira e da segunda etapas da educação básica da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB): a educação infantil para as crianças de 0 a 5 anos e 11 meses, em creches e pré-escolas, e o primeiro segmento do ensino fundamental, as quatro séries iniciais. A articulação entre essas duas etapas da educação básica é a grande novidade legal das políticas públicas, que ocorre depois da revolucionária primeira etapa, que, no papel, já articula creche e pré-escola como um direito das crianças e das famílias e um dever do estado na esfera municipal. Como disse a médica Marisa C. Lobo da Costa, já em 1979, a maior revolução do século XX foi a criação de creches como espaço público para a educação das crianças desde bem pequenas. Ela se referia ao deslocamento da centralidade da educação dessas crianças da mãe e dos pediatras.

     O direito à educação dessas crianças é um direito diferente do direito à educação obrigatória. Diferente também foi a luta para alcançá-lo. O mais recente direito à educação em creches tem inovado a formação docente. Até então, quem exercia essa função eram muitas vezes guardadeiras, enfermeiras, assistentes sociais e, às vezes, até pedagogas, que cuidavam e tomavam conta das crianças, educando sem os referenciais das ciências da educação. Aos poucos, tem sido contaminada a pré-escola, que, muitas vezes, é preparatória e antecipatória do ensino fundamental. Cabe agora contaminar as séries iniciais da escola obrigatória com as práticas pedagógicas não-escolares construídas por profissionais com ou sem diploma, mas que foram construindo uma pedagogia da prática educativa com as crianças pequenas. Para isso, será necessária uma nova formação para as docentes das crianças de 0 a 10 anos.

     As novas diretrizes para os cursos de pedagogia contemplam (ainda deixando a desejar) a formação docente para a educação infantil e as séries iniciais. Alguns cursos de pedagogia já estão contratando professores(as) pesquisadores(as) que estão criando essa nova área de pesquisa: a pedagogia da infância de 0 a 10 anos. Portanto, o curso de pedagogia deverá ser diferente do que sempre foi: formador de professores(as) das séries iniciais e, às vezes, com uma habilitação para a educação de crianças de pré-escola, freqüentemente antecipatória e/ou preparatória.

     O estudo feito pela professora Anamaria Santana da Silva (2003) em seu doutorado, realizado na Faculdade de Educação da Unicamp, sobre algumas faculdades de pedagogia das universidades federais, revela a ausência da formação específica de professores(as) para atuar em creches e em pré-escola como primeira etapa da educação básica. Os cursos de pedagogia, assim como os cursos de magistério, formam professores(as) para ensinar. E a educação infantil - não é à toa que a LDB a denominou educação básica, e não ensino básico - não está centrada na aula, na figura da professora, no binômio ensino-aprendizagem, hoje questionado também para o ensino fundamental. A educação infantil está centrada na experiência infantil, no processo, e não no resultado.

     O que aprendemos nos cursos de pedagogia para poder trabalhar com crianças que ainda não falam, ainda não andam, ainda não lêem nem escrevem com as letras? O que aprendemos - além do enfoque psicológico, este, sim, bastante presente - sobre as crianças de 0 a 10 anos? Como constroem saberes entre elas? Como se dá a produção das culturas infantis nesse espaço coletivo de educação na esfera pública (fora da esfera privada da família), com profissionais docentes que organizam o espaço e o tempo, criando as condições para a produção das culturas infantis? Na verdade, temos uma profissão que está sendo inventada: a docência na educação infantil. Mesmo sem dar aulas, a docente terá sua especificidade com as crianças de 0 a 3 anos em creche e com as de 4 a 6 anos na pré-escola. Assim, os cursos de pedagogia formam para três tipos de docência: na creche, na pré-escola e nas séries iniciais. As professoras de séries iniciais são conhecidas como professoras polivalentes, trabalhando com as disciplinas escolares, enquanto as demais atuam sem disciplinas, mas com campos de experiência, como sugerem as pedagogias italianas (Faria, 2004).

     Partindo de pesquisas sobre o coletivo infantil brasileiro em creches e pré-escolas, temos nosso currículo para a educação infantil em continuidade - 0 a 3 anos e 4 a 6 anos - e agora precisamos inverter o sinal e contaminar a educação das crianças das séries iniciais e construir um currículo para uma pedagogia da infância (Oliveira-Formosinho et al., 2007) centrado na criança de 0 a10 anos: ampliar a formação teórica para a docência com a cultura lúdica e com as culturas da escrita (mesmo que não seja para a alfabetização sistemática desde as primeiras idades), além da formação em arte. Assim, com esses três eixos, teremos uma pedagogia da infância alicerçada em teorias e pedagogias que não segmentam as faixas etárias, embora estejam atentas para as especificidades de experiência vividas pelas crianças e atentas para as diversas formas de organização do pensamento durante a infância, distinta da poderosa organização alcançada com a escrita.

     Mario de Andrade dizia que as crianças são inventivas e expressam essa inventividade nos desenhos, (re)inventando inclusive a perspectiva (Gobbi, 2004). As pesquisas realizadas desde os anos 1970, ao estudar o coletivo infantil, têm mostrado que as crianças são comunicadoras por excelência, são capazes de sofisticadas formas de organização do pensamento e de sua manifestação mesmo antes de ler e escrever. Assim, faz-se necessária uma outra formação profissional docente, também sofisticada, e uma pedagogia para a infância que não seja apenas sinônimo de ler e escrever, que contemple as cem linguagens infantis (Edwards, 1999).

     Partindo dessa outra forma de conceber a infância, ao lado das nossas características continentais e da riqueza da diversidade cultural brasileira, precisamos também ampliar a formação dos(as) novos(as) pedagogos(as) com as teorias dos pensadores da educação de massa, da educação para turmas grandes, professores capazes de trabalhar com idades misturadas, em duplas de adultos sem hierarquia, "alfabetizados" nas cem linguagens infantis, críticos das pedagogias espontaneístas e cognitivistas, superando os binarismos.

     Começar aos 6 anos de idade a escola de 9 anos, tentando superar o roubo de um ano da educação da pequena infância, apenas conquistada, poderá significar uma profunda transformação na escola e no sistema de ensino, problematizando e modificando a atual formação docente para o ensino de alunos(as). Os documentos do Ministério da Educação (MEC) que norteiam a política da educação infantil trazem importante contribuição pela primeira vez na política educacional brasileira: aspectos da infra-estrutura e da organização do espaço físico para uma pedagogia da educação infantil, para que uma pedagogia da escuta, uma pedagogia das relações, uma pedagogia das diferenças possa ser construída, em continuidade com as séries iniciais.

     O convívio das diferenças permitirá que a criança, desde pequena, possa conhecer a origem da desigualdade. Portanto, um(a) docente comprometido(a) com o conhecimento sem dar aulas atuará como se fosse um cenógrafo, um criador de ambientes para que a infância aconteça. Como diz Walter Benjamin (1984), o professor de crianças é como um diretor de teatro: cria as condições para que o elenco consiga trabalhar e dar o seu melhor para entreter, agradar e provocar a platéia, o público.

     Nós, aqui no Brasil, temos sido muito criativos e temos inventado muitas formas de educar as crianças pequenas. Agora, para não perdermos tudo isso, é necessário contaminar a escola de ensino fundamental. O documento do MEC de 1995, intitulado Os critérios de atendimento de uma creche que respeita os direitos fundamentais da criança, é um marco na história da educação brasileira: trata-se de 12 critérios que pretendem garantir a todas as crianças que freqüentam escolas e espaços coletivos de educação as condições para construir a infância (disponível no site do MEC).

     As professoras de pré-escola e as de 1ª série serão aliadas nesse processo e juntas articularão as duas etapas da educação básica. A arte será a grande aglutinadora. A experiência com os ciclos, por exemplo, precisa incluir as crianças de 0 a 3 anos. A construção do indivíduo como eixo central da escola, que geralmente se transforma em individualismo, pode ser ampliada para a construção da infância, do coletivo infantil, da diversidade. Articular o sistema nacional de ensino/educação também com as práticas de educação não-formais pode favorecer a articulação entre as nossas duas etapas.

      E atenção para não cairmos em armadilhas: aumentar o período da licença-maternidade não resolve o direito à educação das crianças pequenas! Precisamos é de uma nova formação docente, que garantirá a continuidade da educação no coletivo das crianças de todas as idades. O compromisso com o conhecimento, produto da formação científica e artística na docência para a infância, favorecerá a construção de uma pedagogia capaz de formar o cidadão de pouca idade centrada em ações integradoras do ser, tais como o brincar, ação humana em que o pensar e o fazer podem não estar dissociados, desde que a intencionalidade educativa do adulto profissional assim o deseje.

  Ana Lúcia Goulart de Faria
 
REFERÊNCIAS

BENJAMIN, W. Reflexões: a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Summus, 1984.

COSTA, M.L.da. A criança objeto da medicina. Cadernos de Pesquisa, n. 31, 1979.

EDWARDS, C. et al. As cem linguagens da criança. Porto Alegre: Artmed, 1999.

FARIA, A.L.G. de. Orientações e projetos pedagógicos nas creches e pré-escolas italianas. Patio Educação Infantil, ano 2, n. 5, p. 16-19, ago./nov. 2004.

GOBBI, M. Desenhos de outrora, desenhos de agora: Mario de Andrade e seu acervo de desenhos de crianças pequenas. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação da Unicamp, 2004.

OLIVEIRA-FORMOSINHO, J.; KISHIMOTO, T.M.; PINAZZA, M.A. (orgs.). Pedagogia(s) da infância: dialogando com o passado, construindo o futuro. Porto Alegre: Artmed, 2007.

SILVA, A.S. A formação universitária das professoras de educação infantil. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação da Unicamp. 2003.