Pesquisar este blog

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Edgar Morin e os sete saberes




Para Edgar Morin os sete saberes necessários à educação do futuro não têm nenhum programa educativo, escolar ou universitário, mas abordam problemas específicos para a educação. Morin se refere aos sete saberes como os setes buracos negros da educação.
 O primeiro buraco negro diz respeito ao "conhecimento". Naturalmente, o ensino fornece conhecimento, fornece saber. Porém, apesar de sua fundamental importância, nunca se ensina o que é, de fato, o conhecimento. Sabemos que os maiores problemas neste caso são o erro e a ilusão, porque o conhecimento não é um reflexo ou espelho da realidade. O conhecimento é sempre uma tradução, seguida de uma reconstrução.
            Edgar Morin exemplifica dizendo:
   "Mesmo no fenômeno da percepção, através do qual os olhos recebem estímulos luminosos    que        são transformados, decodificados, transportados a um outro código, que transita pelo nervo ótico, atravessa várias partes do cérebro para, enfim, transformar aquela informação  primeira em percepção." (Edgar Morin, 2007. p.81)
 A partir desse exemplo podemos concluir que a percepção é uma reconstrução. Desse modo, a percepção e o conhecimento não são fotografias do mundo exterior e sim uma tradução seguida de uma reconstrução. É necessário ensinar que o conhecimento comporta sempre riscos de erros e ilusões, e tentar mostrar quais são suas raízes e causas.
Para ensinar àqueles que irão se defrontar com o mundo onde tudo passa pelo conhecimento, pela informação veiculada em jornais, livros, manuais escolares, internet o professor deve estar muito bem preparado, porque é o professor quem deve mostrar aos seus alunos todos os gêneros textuais e suas características para que o aluno tenha uma melhor compreensão das informações presentes no texto. E isso, na realidade escolar não é o que acontece, pois conforme entrevista com a professora de 5ª série, ela trabalha apenas textos figurativos para melhor trabalhar a gramática, sendo que é consciente de que seus alunos leem reportagens, usam a internet, leem charges, mas não sabem que cada gênero textual tem uma finalidade e uma intencionalidade algo que é de fundamental importância, nos dias de hoje, o aluno saber.
O segundo buraco negro é o "conhecimento pertinente". Segundo Morin um conhecimento não é pertinente porque contém uma grande quantidade de informações. Ao contrário disso, nos damos conta que, frequentemente, somos submergidos pela quantidade de informações transmitidas pela televisão. Além disso, o verdadeiro problema não é o da informação quantitativa, mas o da organização da informação.  
Por isso o professor precisa de formação para ser capaz de trabalhar e organizar as informações que compartilham com seus alunos, pois os alunos estão sem orientação para o manejo das tecnologias de informação, como por exemplo: a internet. Mas o que ocorre nas escolas é uma preocupação por parte dos professores em "vencer" o conteúdo e a avaliação é o modo de verificar se o aluno decorou tudo e se conseguiu o professor sente-se realizado, pois "venceu" o conteúdo não se importando, assim, com a qualidade do ensino.
Segundo Edgar o ensino realizado por meio de disciplinas fechadas nelas mesma atrofia a atitude natural do espírito para situar e contextualizar. Temos, portanto, a necessidade de ensinar a pertinência, ou seja, um conhecimento simultaneamente analítico e sintético das partes realizadas ao todo e o todo religado as partes.
O terceiro buraco negro é a "condição humana". De acordo com Morin, em nenhum lugar é ensinado o que é condição humana, ou seja, nossa identidade de ser humano. O auto-conhecimento de si pode começar quando a reflexão nos objetiva em relação a nós mesmos. O imediato em si não permite o ato de conhecer e isso porque uma certa distância se faz necessária. O conhecimento da condição humana não se resume às ciências, contrariamente ao que se diz. A literatura e a poesia desempenham um grande papel nesse conhecimento, pois fala de nossas vidas, paixões, emoções, sofrimentos, alegrias, das relações com o outro e tudo isso é subjetivo e importante para o nosso próprio conhecimento. A escola trabalha essa subjetividade nas obras, mas não propõe uma reflexão sobre a condição humana.
O quarto buraco negro é a "compreensão humana". Nunca se ensina sobre como compreender uns aos outros. A palavra compreender vem do latim, compreendere, que quer dizer: colocar junto todos os elementos de explicação, ou seja, não ter somente um elemento de explicação, mas diversos. Mas a compreensão humana vai além disso, porque, na realidade, ela comporta uma parte de empatia e identificação. O que faz com que se compreenda alguém que chora, por exemplo, não é analisar as lágrimas no microscópio, mas saber o significado da dor, da emoção. Por isso, é preciso compreender a compaixão, que significa sofrer junto. É isto que permite a verdadeira comunicação humana.
O quinto buraco negro é a "incerteza". Apesar de, nas escolas, ensinar-se somente as certezas, como a gravitação de Newton, atualmente a ciência tem abandonado determinados elementos mecânicos para assimilar o jogo da certeza e incerteza. Essa incerteza é uma incitação à coragem. A aventura humana não é previsível, mas o imprevisto não é totalmente desconhecido. Somente agora se admite que não se conhece o destino da aventura humana. È necessário tomar consciência de que futuras decisões devem ser tomadas contando com o risco do erro e estabelecer estratégias que possam ser corrigidas no processo da ação, a partir dos imprevistos e das informações que se tem. A escola trabalha somente as certezas não admite o erro, sendo que é a incerteza que faz o ser humano buscar o conhecimento.
O sexto buraco negro é "A era planetária". Segundo Morin esse fenômeno que estamos vivendo hoje, em que tudo está conectado, é um aspecto que o ensino ainda não se importou, assim como o planeta e seus problemas a quantidade de informações que não conseguimos processar e organizar. Sendo de extrema importância que a escola se envolva com esses problemas para auxiliar seus alunos a organizar as informações. Esse ponto é importante porque existe, neste momento, um destino comum para todos os seres humanos. O crescimento da ameaça letal se expande em vez de diminuir: a ameaça nuclear, a ameaça ecológica, a degradação da vida planetária. Ainda que haja uma tomada de consciência de todos esses problemas, ela é tímida e não conduziu ainda nenhuma decisão efetiva. Por isso, faz-se urgente a construção de uma consciência planetária.   
O último buraco negro segundo Morin é "A Antropo-ética". Cabe ao ser humano desenvolver, ao mesmo tempo, a ética e a autonomia pessoal (as nossas responsabilidades pessoais), além de desenvolver a participação social (as responsabilidades sociais), ou seja, a nossa participação no gênero humano, pois compartilhamos um destino comum. E hoje que o planeta já está, ao mesmo tempo, unido e fragmentado, começa a se desenvolver uma ética do gênero humano, para que possamos superar esse estado de caos e começar, talvez, a civilizar a terra.
De acordo com o Plano Político Pedagógico da maioria das escolas a avaliação é desenvolvida de forma contínua, sistemática e cumulativa respeitando as características individuais, pois cada um aprende em tempo e ritmos diferentes. O conhecimento não é produto acabado e sim um processo que está sendo reformado, repensado e se adequando a nossa realidade. A avaliação é qualitativa e quantitativa (regime da escola), mas sempre se procura avaliar o aluno como um todo e não somente pelas notas obtidas pelas provas.
Percebe-se na pesquisa realizada que algumas escolas fragmentam o educando, pois na avaliação de Língua Portuguesa o professor objetiva apenas diagnosticar se os conteúdos vistos em suas aulas foram assimilados. Mas não tem uma aplicabilidade dos resultados para a vida e sim apenas para saber se a professora conseguiu o resultado de suas matérias. Sendo assim, a avaliação não está de acordo com os sete saberes de Edgar Morin.
Os sete saberes são essenciais ao ensino, porque tudo está integrado para permitir uma mudança de pensamento; para que se transforme a concepção fragmentada e dividida do mundo, que impede a visão total da realidade. Essa visão fragmentada faz com que os problemas permaneçam invisíveis para muitos, principalmente para muitos governantes.
Evidentemente, o ensino fornece conhecimento, fornece saber. Por isso, é sempre uma tradução, seguida de uma reconstrução. Percebe-se então que é de fundamental importância que o professor quando pede uma construção textual para seu aluno que faça a correção e devolva ao seu aluno para que ele possa refazer, porque é na reconstrução que irá perceber seus erros e assim aprender, pois é errando e consertando nossos erros que aprendemos.
Com isso podemos afirmar que o desafio do professor na sua atuação docente está em ser um mediador do processo de reconstrução do conhecimento. Ele precisa possibilitar o acesso às ferramentas necessárias para que o aluno possa elaborar uma nova forma de compreensão de sua prática social e de seus vínculos com a prática social global.
 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
MORIN, Edgar. Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios, 4 ed. – São Paulo: Cortez: 2007.       


2 comentários:

  1. Ótima postagem,
    reflexão, reconstrução, compreensão, atualização,
    incertezas, globalização...
    Precisamos reentender o mundo e os seres humanos para sermos capazes de educar.
    Um abraço

    ResponderExcluir
  2. MARAVILHOSO, PRECISAMOS ANTES DE TUDO ENTERDERMOS O QUE QUEREMOS DE NOSSOS ALUNOS, O QUE ESTAMOS PROPORCIONANDO PARA ELES ,O QUE REALMENTE ELES ESTÃO APRENDENDO, O QUE REALMENTE ELES PRECISAM APRENDER.
    ABRAÇOS
    2 DE NOVEMBRO DE 2011

    ResponderExcluir