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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

SOBRE CLARICE LISPECTOR




Clarice (seu nome era Haia Lispector) nasceu em 10 de dezembro de 1920, na Ucrânia. Sua família veio para o Brasil fugindo da perseguição aos judeus, após a Revolução Bolchevique de 1917. Em 1921 a família chegou ao Brasil e foi para Maceió. Portanto Clarice estava com 2 anos. Pouco tempo depois, em 1924 mudam-se para Recife - onde residiram por 9 anos - em busca de novas perspectivas de trabalho, período em que piora a doença da mãe - de paralisia progressiva que a tornou inválida, até morrer em 1930.

Pela morte de sua mãe, estas palavras de Clarice, numa de suas crônicas...

'Fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente e, por superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje esta carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que meus pais me perdoaram eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande esperança. Mas eu não me perdoo'.

Embora Clarice tenha dito que levava uma vida corriqueira, que criava seus filhos, cuidava da casa, gostava de ver os amigos e que o resto era mito, mesmo assim se tornou uma mulher que desperta muita curiosidade pela sua personalidade diferenciada, embora insistisse em preservar-se. Mas contudo sempre parece misteriosa, exótica, difícil de entendê-la. Incrivelmente enigmática. Falava inglês, francês e o ídiche, língua de sua mãe.

Em 1931, Clarice com 7 anos já escrevia contos e os mandava para a seção infantil do Jornal de Pernambuco, mas foram recusados por seus contos tratarem de sensações ao invés de fatos.

Em 1938 iniciou o curso de Direito na Universidade do Brasil e neste ano publicou seu primeiro conto, Triunfo no jornal Pan e trabalhou como jornalista na Agencia Nacional e no jornal A Noite . Em 1940 seu pai faleceu; era um homem sofrido, teve uma vida marcada pela pobreza. Trabalhava como mascate no Brasil.

Em 1943, Clarice casou-se com seu colega de faculdade Maury Gurgel Valente que ingressou na carreira diplomática e em 1944 mudaram-se para Belém do Pará e depois para Nápoles (Itália). Depois para Suíça, Inglaterra, Estados Unidos, entre outros. E em Nápoles serviu um hospital da Força Expedicionária Brasileira.

Seus próprios textos revelam possuidora de uma identidade inquieta e turbulenta, difícil de adaptar-se a expectativas sociais, obsessiva em conhecer a si e também aos outros, desmascarando a falsidade das ilusões do cotidiano, um mundo de desejos fúteis. Certamente que sua vida seguiu normal quanto a ter seus dois filhos Pedro (1948) e Paulo (1953), suas viagens para países onde seu marido era transferido, em cuidar de seu lar etc. O que era diferente em Clarice era sua essência.
Porém, em 1959 Clarice separou-se do marido e regressou ao Brasil, assumindo a coluna Correio Feminino – feira de utilidades, com o pseudônimo de Helen Palmer, no Correio da Manhã.

Mas o que terá Clarice que provoca tanto fascínio em alguns e perplexidade em outros? O que terão seus contos, romances, crônicas e livros infantis publicados que no decorrer de tantos anos se fala nela com entusiasmo, curiosidade à procura de decifrá-la, de classificar seu estilo, de defini-lo de enquadrá-la? Suas citações, seus pensamentos são procurados e com os quais milhares de pessoas se identificam ou tentam desvendar algum mistério ainda não descoberto.

Com uma máquina de escrever no colo produzia seus livros com os filhos ao redor, atendendo o telefone, chamando a empregada, recebendo os amigos... Sim, sua vida doméstica era igual a de todas as mulheres de sua classe, mas com a diferença que a tornou uma das mais importantes escritoras brasileiras. Faz crer que sua vida foi simples, mas sua literatura é uma marca, uma griffe. Em 1967 Clarice feriu-se gravemente num incêndio em sua casa, provocado por um cigarro que causou-lhe graves queimaduras nas mãos. Mas recuperou-se.

'Meus livros, infelizmente para mim, não são superlotados de fatos e sim da repercussão dos fatos nos indivíduos'.

Sua ficção transcende o tempo e o espaço; aborda neles situações em que seus personagens expõe todas suas paixões, suas angústias seus estados de alma. Por isso tudo - e não só por isso - é que Clarice se tornou uma das principais escritoras brasileiras e que tem mais despertado o interesse dos críticos e dos estudiosos da literatura. Expõe ao leitores questões muito particulares, como as questões entre a literatura e a vida, a representação e a subjetividade, os valores sociais e a busca da liberdade.

Entre muitas críticas, 'Laços de Família' possui um texto inovador que na sua originalidade flerta com o pensamento existencialista de Sartre demonstrando que Clarice, além de uma autora competente na reinvenção da forma, bastante aberta à influência à influência das vanguardas intelectuais de sua época. Por esta obra recebeu o Prêmio Jabuti, na categoria contos, crônicas e novelas. Seus contos falam - através de seus personagens -, do tédio, da náusea, do encantamento social, da selvageria e hostilidade de um mundo nada confiável.

Na época, Erico Veríssimo – padrinho de um de seus filhos,  manifestou-se: 'Não te escrevi sobre teu livro de contos por puro encabulamento de te dizer o que penso dele. Aqui vai; é a mais importante coleção de histórias publicadas neste país na era pós-machadiana'.

'O que recebi de herança não me chega. Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que minha abordagem do português fosse virgem e límpida'.

Apesar de Clarice ter recebido muitos 'Nãos' pela vida, e mesmo quando já recebera muitos prêmios, entre eles o Prêmio Graça Aranha - pela ABL, não desistiu de escrever; esta era a sua maneira de pensar e entender o mundo. Veio a falecer em 9 de dezembro de 1977 - no Rio de janeiro - de câncer no ovário aos 57 anos.
'Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro...'

ROMANCES:
Perto do coração selvagem / O Lustre / Cidade Sitiada / A maçã no escuro / A paixão segundo GH / Uma Aprendizagem / Água Viva / A Hora da Estrela / Um Sopro de Vida.

CONTOS:
Alguns Contos / Laços de Família / A Legião Estrangeira / Felicidade Clandestina / A Imitação da Rosa / A via crucis do corpo / Onde estiveres de noite.

CRÔNICAS:
Visão do Esplendor / Para não esquecer.


LITERATURA INFANTIL:
O Mistério do coelho pensante / A mulher que matou os peixes / A vida íntima de Laura / Quase de verdade.

OBRAS PÓSTUMAS:
A Bela e a Fera / A Descoberta do Mundo / Como Nasceram as Estrelas / Cartas perto do Coração / Correspondências / Aprendendo a Viver / Outros Escritos / Correio Feminino / Entrevistas / Minhas Queridas / Só Para Mulheres.


Tais Luso - http://taisluso.blogspot.com/

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