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sábado, 9 de junho de 2012






  

O sucesso escolar dos filhos e a observação das brincadeiras espontâneas - reflexões sobre prevenção


Toda família deseja que seus filhos tenham o melhor desempenho possível ao longo dos anos escolares, não é verdade? Porém, o que chama muito atenção atualmente é que pouco se fala do quão importante é o desenvolvimento infantil, desde a gestação (ainda na fase intra-uterina),  passando pela primeira infância (de zero a seis anos), para depois se consolidar, de fato, a inserção no mundo pedagógico.

Para que a inicialização na vida escolar seja a mais adequada possível, muitas etapas que a antecedem devem ser valorizadas. 

Mães que vivem uma gestação de bastante tranquilidade, com alimentação adequada, noites bem dormidas e estabilidade emocional, favorecem significativamente a formação neuronal inicial dos bebês. Acabam fornecendo a eles uma base psíquica bastante estruturada, bem desenvolvida, estável.

Antes de pensarmos em idade correta de alfabetização, de refletirmos sobre a idade de ir para a escola pela primeira vez, de querermos crianças que se interessem pela leitura, que se envolvam nas atividades da escola, é muito válido valorizarmos as bases que antecedem tudo isso.

Sobre essa temática destaco duas preocupações essenciais: a importância do desenvolvimento durante a gestação e a importância do desenvolvimento da estrutura mental na primeira infância, por meio das brincadeiras espontâneas, em especial, as de “faz de conta”.

Seu filho ou filha tem oportunidade frequente de brincar de fantasia? Brincar de fantasia quer dizer brincar de se imaginar no lugar do outro, de fantasiar, inventar. Brincar de se fantasiar de verdade ou não, é fator pouco preocupante nesse momento. A roupa de fantasia em si, não é a questão do artigo.

Vamos pensar e refletir sobre o “faz de conta”. Brincar de ser papai, fingir ser a mamãe, se posicionar como professor, falar como médico, imitar os animais, como se fosse algum deles. Enfim, fazer de conta que é o outro. Brincar como se estivesse em outro espaço, inventar castelos, ruas, fazendas imaginárias. Cozinhar de mentirinha a comidinha favorita. Puxar um carrinho e se imaginar pilotando o automóvel. Pular como se fosse um sapo de verdade. Entrar em uma casinha que só existe no imaginário. Enfim, brincadeiras de faz de conta.

Para algumas famílias, todas essas brincadeiras ainda são comuns e fazem parte do seu cotidiano, mas para outras são brincadeiras raras, pois foram substituídas por vídeo games e outros recursos tecnológicos.

Brincar com um jogo no computador requer mecanismos mentais diferentes das brincadeiras tão comuns antigamente, chamadas de faz de conta. 

Atuar com o faz de conta permite o trabalho da estrutura do pensamento e da estrutura emocional das crianças.

Quando brincam muito de faz de conta conseguem elaborar melhor as suas estruturas internas de pensamento. 

Em termos de repertório oral, por exemplo, as crianças que brincam de imitar a vida, que se colocam no lugar do outro, que fingem mil invenções, são capazes de utilizar diversas palavras diferentes, enquanto que a brincadeira com o vídeo game, não permitem a ampliação do vocabulário, tanto quanto o faz de conta.

As vantagens das brincadeiras espontâneas, de faz de conta, são infinitamente mais vantajosas. Por meio delas as crianças desenvolvem a coordenação motora, o aspecto do convívio social, a linguagem, entre vários outros fatores. São recursos extremamente importantes para a formação integral das crianças.

Brincar em casa, ou na escola, com brincadeiras dirigidas, não exercita da mesma forma a questão de estar no lugar do outro. Por exemplo, vamos imaginar uma sala de aula onde a professora organizou o espaço para a dança da cadeira. Difícil a criança que não gosta, mas, isso permite o estar no lugar do outro? Exercem o papel de algum personagem ou a criação da imaginação de algum lugar fantasioso? Às vezes, até pode acontecer de uma criança ou outra usar de tais artifícios até na brincadeira da dança da cadeira, mas será uma exceção.

Normalmente, o que mais vemos na divertida brincadeira da dança da cadeira, são exercícios de domínio corporal e, claro, muita diversão. 

Hoje a minha atenção é despertar pais, professores e a sociedade de forma geral para as brilhantes possibilidades das brincadeiras de faz de conta. Esse tipo de situação permite às crianças que exerçam o simbolismo. 

O que é esse ‘simbolismo’? É o sentido que a criança emprega às situações durante o brincar. Quando olhamos a criança brincando podemos perceber quais valores ela está empregando aos fatos e objetos, e quais os significados que ela já adquiriu sobre a vida real. 

No papel de pais e professores atentos, podemos e devemos contribui com a construção dos simbolismos. Vejam a importância disso:

Quando a criança brinca de casinha, por exemplo, e as situações de medo, susto ou horror, aparecem em excesso, temos uma ótima oportunidade de interagir na brincadeira, entrando na fantasia, junto com a criança, desvendando com ela as situações. É preciso um pouquinho de criatividade, claro, mas não é nada difícil, ao contrário, é maravilhoso brincar de faz de conta junto com as crianças.

Ao brincar com elas, podemos fingir que somos outro personagem e atuar nas situações que nos chamam mais atenção. No caso do medo, susto, ou horror, podemos mudar o tom de voz, fingindo ser alguém que começou a brincar também e, aos poucos, podemos conversar sobre o porquê de determinados posicionamentos. 

Exemplo: “oi amiguinho, posso brincar com você? Parece que estava com medo. Posso te ajudar? O que estava acontecendo? Você sempre tem medo? O que te dá mais medo? Sabe de uma coisa? Quando tenho medo, começo a pensar nas coisas que minha mamãe me ensinou, e logo o medo passa. Ah, também sempre lembro que não precisamos ter medo, porque muitas pessoas que vivem perto de nós, nos ajudam a todo momento, e mais, Deus está sempre cuidando de nós também. Será que você precisa mesmo ficar com medo? O que você acha?”

É um exemplo bem simples, mas dá para exemplificar questões sobre O QUE observar nas brincadeiras (as atitudes, as falas, o posicionamento da criança, etc) e COMO analisá-las (brincando junto, participando ativamente). 

Ou seja, as brincadeiras espontâneas são super favorecedoras do exercício do simbolismo. Por meio delas os adultos podem notar a forma como as crianças estão construindo a noção da vida em sociedade e como estão entendendo os relacionamentos sociais. 

Algo fundamental nisso tudo: é dessa forma que possibilitamos às crianças uma boa maneira de trabalhar o próprio eu, estruturar os pensamentos e exercer o seu papel na sociedade. É assim que toda a estrutura interna, inicial, é exercitada, formando os pilares para as aprendizagens humanas, escolares ou não.

Só mais um pouquinho, anotações essenciais antes de encerrar esse artigo: dessa mesma forma, quando os adultos participam junto e observam a brincadeira, podem acontecer descobertas preocupantes (agressividade excessiva, passividade contínua, atraso motor, inconstância acentuada do humor, desvios da fala, etc). Mais um motivo para valorizarmos realmente esses momentos. Para essas observações, tanto as brincadeiras espontâneas como as dirigidas são relevantes. 

Nesses casos, pais e professores precisam se dedicar ainda mais, intervir sistematicamente, brincando junto, para ver se com orientações bem específicas (mas lúdicas, sem bronca, sem cobrança, de forma prazerosa) os sintomas diminuem. Caso contrário, procurar ajuda profissional o quanto antes. Atendimento direcionado na primeira infância sempre tem resultado mais positivo do que em idade avançada. 

Para não esquecer: a base do desenvolvimento integral (físico, emocional, social, pedagógico) passa por dois momentos que são insubstituíveis: a fase intrauterina e o rico período da primeira infância, de zero a seis anos. 

Gestação e primeira infância precisam de prioridade na sociedade! Nessas duas fases, tudo que é feito para colaborar com o desenvolvimento das crianças, de certa forma, pode ser considerado como prevenção precoce das dificuldades na aprendizagem, pois favorecerá a formação primária que servirá de base para as aprendizagens humanas. 

Roberta Mello Leal Pimentel
Pedagoga - Especialista em Psicopedagogia - Mestre em Educação




4 comentários:

  1. Querida, parabéns pelo texto tão importante para ser lido pelos pais.Educar uma criança é uma responsabilidade e uma missão de vida.Sou pedagoga, muito caminhei neste sentido.Hoje não exerço mais esta profissão de professora e educadora,mas trago arraigado em mim este ideal.
    Bom domingo minha doce companheira.Bjs Eloah

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  2. Querida Eloah, também não exerço mais a profissão com crianças em sala de aula, mas sou formadora de professoras de Educação Infantil da rede Municipal, e com turmas de especialização em Educação Infantil e Gestão Escolar, por isso continuo com firmeza em meus ideais, amo a profissão de educadora. Obrigada pelas palavras carinhosas. Bjos Magnólia

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  3. Oi, Magnólia, belo texto! Infelizmente, amiga, como você tão bem postou, cadê a infância, os sonhos, os faz-de-conta, as brincadeiras de mamãe? Não, hoje crianças com 2 anos já estão agarradas num computador, e mais um pouquinho nos dão aulas de informática! São crianças com outras cabeças, onde a imaginação chega a elas pronta, dada de mão beijada; não precisam mais imaginar! Tá tudo num pc, num Ipod, Ipad, celular com seus mil joguinhos. Foi-se , era uma vez uma infância... Vamos ver o que vai dar tudo isso.

    grande beijo.
    Tais Luso

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    1. Taís,infelizmente nem as escolas dão valor a importância do brincar para o desenvolvimento da criança, negligenciam momentos importantes. Brincar é tão importante para a criança como trabalhar é para o adulto. É o que a torna ativa, criativa, e lhe dá oportunidade de relacionar-se com os outros; também a faz feliz e, por isso, mais propensa a ser bondosa, a amar o próximo, a ser solidária.

      A criança não é um adulto que ainda não cresceu. Ela tem características próprias. Para alcançar o pensamento adulto (abstrato), ela precisa percorrer todas as etapas de seu desenvolvimento físico, cognitivo, social e emocional. Seu primeiro apoio nesse desenvolvimento é a família. Posteriormente, esse grupo se amplia com os colegas de brincadeiras e a escola.

      Brincando, a criança desenvolve potencialidades; ela compara, analisa, nomeia, mede, associa, calcula, classifica, compõe, conceitua, cria, deduz etc…

      Sua sociabilidade se desenvolve; ela faz amigos, aprende a compartilhar e a respeitar o direito dos outros e as normas estabelecidas pelo grupo, e a envolver-se nas atividades apenas pelo prazer de participar, sem visar recompensas nem temer castigos. Brincando, a criança estará buscando sentido para sua vida. Sua saúde física, emocional e intelectual depende, em grande parte, dessa atividade lúdica.
      Todos as teóricos já comprovaram isso.
      Nossa... as vezes acho que estou em sala de aula, me empolgo quando o assunto é criança e educação.
      Beijo e bom fim de semana.

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